O produtor de feijão paranaense inicia o ano de 2010 com um certo receio. Além de esperar por um clima melhor para o ano novo, uma vez que em 2009 a falta de chuvas fez com que houvesse uma queda na área plantada, os preços baixos para venda não animam muito o agricultor.
De acordo com o técnico da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Paulo César de Arruda Lopes, o mercado para o feijão neste começo de ano está bem parado e que por isso ainda não há uma expectativa para que os valores obtidos pelo alimento voltem a subir.
“A situação ainda está um pouco obscura. Não sabemos o que poderemos esperar para 2010, pois o mercado está fechado. Para que o produtor, em sua grande maioria composta por agricultores familiares, não sofram grandes prejuízos, o governo federal, por meio da Conab, administra políticas de garantia de preço mínimo para comprar o feijão desses produtores. Recentemente, a Conab comprou 22 mil toneladas, que foram repassadas ao Nordeste do Brasil”, informa.
Lopes admite que ainda não se sabe muito sobre a lavoura de feijão nesse ano. “Somente a partir da segunda quinzena de janeiro é que poderemos ter uma noção do que esperar. Por enquanto, nem mesmo é possível fazer uma projeção dos preços”, avalia o técnico.
Anderson Tozato |
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Em queda: a saca de 60 quilos custava, em média, um pouco mais de R$ 60 até outubro; o preço ideal seria, no mínimo, R$ 80. |
Para o operador de mercado da Correpar Corretora de Mercadorias, Julio Cabral, uma saída para o produtor e para quem trabalha com o feijão é o de exportar o produto. Segundo ele, a exportação vai dar uma garantia de escoar a produção e a oportunidade de continuar plantando o feijão, caso ache necessário.
“Outra vantagem é que, à medida em que aumentam as variedades de feijão no mercado interno, a industrialização para a importação também deve crescer. Assim, o produtor vende para o mercado interno as variedades que constantemente são importadas e exportam o excedente”, explica Cabral.
O operador diz ainda que o feijão carioca, variedade que, segundo ele, é a mais plantada e consumida no Brasil, está sobrando nos armazéns. “O grão não tem mercado para exportação. A tendência é a de que os produtores, para não perder produto, reduzam o plantio. Dessa forma o preço tende a subir e a qualidade a diminuir. Por isso, exportar tem sido apontada como a melhor alternativa para o mercado de feijão hoje”, garante.
O presidente do Conselho Administrativo do Instituto Brasileiro do Feijão (Ibrafe) e diretor da Correpar, Marcelo Eduardo Lüders, comenta que o mercado interno do produto não é muito flexível e isso vem atrapalhando a comercialização do feijão.
“Independentemente do preço e da quantia do feijão colhido e colocado à venda, o consumo varia muito pouco. O produtor, diante do excesso de oferta de feijão, principalmente carioca, precisa alterar a variedade. Feijão carioca só é consumido no Brasil e quando sobra simplesmente não se sabe o que fazer com ele”, avalia o presidente.
Dez dos maiores produtores estão no Paraná
Arquivo |
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A cultura do feijão é importante para o Estado. Ela ocupa a quarta colocação em área plantada e é cultivada principalmente por pequenos e médios agricultores. é uma atividade que ge,ra emprego e renda”. Otmar Hubner, engenheiro agrônomo do Departamento de Economia Rural (Deral). |
Dados divulgados pelo Departamento de Economia Rural (Deral), órgão ligado à Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Paraná (Seab), mostram que dos 30 maiores municípios produtores de feijão do Brasil, dez são paranaenses; cinco paulistas; quatro mineiros; três goianos, baianos e mato-grossenses; um catarinense e um do distrito federal. Os dados, de 2008, apontam que Prudentópolis e Irati, no sudeste do Paraná, e Castro, nos Campos Gerais, são os principais produtores paranaenses.
“A cultura do feijão é importante para o Estado. Ela ocupa um papel de destaque no cenário agrícola estadual. A cultura ocupa a quarta colocação em área plantada e é cultivada principalmente por pequenos e médios agricultores. Além disso, é uma importante atividade que gera emprego e renda no campo”, diz o engenheiro agrônomo do Deral, Otmar Hubner. Ele informa ainda que o Valor Bruto da Produção Agropecuária Paranaense (VBP) gerou, entre 2004 e 2008, cerca de R$ 31 bilhões, o quarto maior dos produtos de grãos, atrás apenas da soja, milho e trigo.
O engenheiro revela que a safra deve ter um aumento de produção e na área plantada, porém, os preços ainda estão baixos para o agricultor. “Até o dia 30 de outubro do ano anterior, o preço médio era pouco mais de R$ 60 pela saca de 60 quilos. Com isso, ele praticamente paga para trabalhar. O ideal seria que o preço ficasse, no mínimo, em R$ 80”, encerra. (FL)