Brasília – O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) poderá fechar o ano em 10%, de acordo com a previsão média das 100 instituições financeiras e empresas de consultoria ouvidas pelo Banco Central (BC) em pesquisa semanal concluída sexta-feira e divulgada ontem. O porcentual, além de fugir das metas oficiais, configura o risco de a inflação retornar à casa dos dois dígitos depois dos 15,76% de 1996, quando o Plano Real ainda dava seus primeiros passos e os preços refletiam em parte a indexação da economia.
O vilão da alta novamente foi o dólar, que se apreciou fortemente frente ao real durante o ano em razão de incertezas externas e internas. O fôlego da volta das pressões inflacionárias ficou ainda mais evidenciado com o aumento das projeções de IPCA para 2003 de 9,81% para 9,96%.
As elevações das previsões de inflação para este e o próximo ano ocorreram justamente na semana em que o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu elevar juros básicos de 21% para 22% ao ano, numa tentativa de recentralizar as expectativas inflacionárias do mercado e diminuir o grau de dispersão em relação às metas. Agentes de mercado, no entanto, consideram que o trabalho vem tornando-se mais difícil em razão das incertezas sobre o futuro do regimes de metas no governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. Há dúvidas, por exemplo, se as metas serão ampliadas ou até se serão mantidas como diretriz da política monetária a ser conduzida pela equipe que substituirá a atual diretoria do BC.
A pesquisa indicou também a fragilidade da confiança do mercado em relação ao desempenho da economia neste ano. A média das estimativas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) recuou de 1,22% da pesquisa anterior para 1,21%. O porcentual, com isso, ficou mais distante da projeção oficial de 1,4% feita pelo BC em seu último Relatório de Inflação, quando os juros ainda eram de 18% ao ano. As previsões para o próximo ano ficaram estáveis em 2% do PIB, um número também mais pessimista que os 2,5% a 3% projetados por assessores econômicos do presidente eleito. Por outro lado, a pesquisa reforçou a tendência de otimismo do mercado com o ajuste do déficit da conta corrente do balanço de pagamento. As projeções para o déficit este ano caíram, na média, US$ 11 bilhões e foram para US$ 10,5 bilhões, ficando mais próximas dos US$ 10 bilhões projetados pelo presidente do BC, Armínio Fraga, em palestra feita na cerimônia de abertura do escritório do Banco de Compensações Internacionais (BIS) na Cidade do México. As previsões para o próximo ano recuaram mais fortemente e caíram de US$ 8 bilhões para US$ 7,05 bilhões, enquanto as estimativas de superávit da balança comercial para 2003 aumentaram de US$ 15 bilhões para US$ 15,06 bilhões.
Redução de crédito ao Brasil foi de 13%
Rio
(AE) – Os bancos estrangeiros cortaram US$ 18,5 bilhões das linhas de crédito para o Brasil no primeiro semestre (em relação ao final do ano passado), o que corresponde a uma redução de 13%. Em dezembro de 2001, os bancos estrangeiros tinham US$ 142,4 bilhões aplicados no País e em junho essa exposição caiu para US$ 123,9 bilhões. Os dados constam do primeiro “Relatório de Estabilidade Financeira”, divulgado ontem pelo Banco Central. O documento é uma radiografia que a área de supervisão bancária do BC pretende divulgar semestralmente para dar mais transparência ao sistema financeiro nacional.Na avaliação do BC, a redução de crédito não deve se reverter a curto prazo. O diretor de Política Econômica do BC, Ilan Goldfajn, disse que essas operações “pararam de cair”, mas se estabilizaram em nível bem inferior ao do ano passado. Goldfajn considera que a aversão ao risco é um fenômeno mundial, motivada pela queda de confiança dos empresários e do consumidor nos Estados Unidos e pela manipulação das demonstrações financeiras de grandes empresas internacionais. No caso do Brasil, os bancos apontaram as eleições presidenciais como outro fator para aumentar o risco Brasil. A normalização do fluxo de empréstimo deverá ser gradual para os países com baixo rating (classificação de risco), na opinião de Goldfajn.
O diretor de Política Monetária do BC, Luiz Fernando Figueiredo, considera que outro fator para a redução dos empréstimos é o “grande desconhecimento” dos grandes bancos em relação ao Brasil. “Eles dizem que há consenso. Só que o consenso é sobre bases erradas”, comentou Figueiredo.
Lucros
O relatório do BC mostra que os bancos estrangeiros são os que mais estão lucrando no Brasil. Segundo o relatório, os bancos lucraram R$ 9,8 bilhões no Brasil nos primeiros seis meses do ano. Os bancos estrangeiros responderam por R$ 4 bilhões desse total (41,5%), os bancos privados, por R$ 3,35 bilhões (34,2%), e os estatais, por R$ 2,38 bilhões (24 3%).
A excelente rentabilidade dessas instituições resultou basicamente de aplicações em títulos do governo, que superaram as operações de empréstimo. Segundo o documento do BC, os bancos estrangeiros tinham R$ 93,9 bilhões aplicados em títulos públicos e R$ 85,5 bilhões em operações de crédito no final de junho.
A situação é parecida com a dos bancos estatais, que tinham R$ 157 bilhões em títulos públicos e R$ 124 bilhões em operações de crédito. Apenas nos bancos privados os empréstimos (R$ 123 bilhões) superavam as aplicações em papéis do governo (R$ 92 bilhões) no fim do semestre passado.
O relatório do BC sustenta que os bancos brasileiros estão com boa “saúde”, apesar da instabilidade dos últimos meses. “O sistema superou grandes testes de estresse nos últimos anos com nota 10”, afirmou o presidente do BC, Armínio Fraga. A diretora de Regulamentação, Tereza Grossi, reforçou as afirmações de Fraga, reiterando que, apesar de toda a volatilidade no mercado financeiro dos últimos meses, “nenhuma instituição financeira” apresentou problema. “Estamos colhendo hoje o trabalho feito nos últimos anos, com o saneamento dos bancos privados, bancos estaduais e mais recentemente os bancos federais”, disse.
O presidente do BC reiterou a confiança nas propostas que estão sendo elaboradas pelo futuro governo. “Hoje nós temos sinais do governo eleito que vamos terminar, completar este ciclo de reforma, afirmou. Ele acredita que o novo governo vai manter o câmbio flutuante e outras reformas implementadas no governo Fernando Henrique Cardoso, como a Lei de Responsabilidade Fiscal, as reformas na Previdência e a recuperação das finanças estaduais.