Os desentendimentos públicos entre parlamentares da base governista e dentro do próprio governo já ameaçam a credibilidade da gestão Lula e geram especulações no mercado financeiro sobre o possível afastamento do ministro da Casa Civil, José Dirceu. Há uma preocupação de que a crise política coloque em xeque a condução da economia. Diante das incertezas, os investidores preferem manter cautela e adiar negociações que não sejam urgentes.
O dólar ficou em alta pelo terceiro dia consecutivo. A moeda teve valorização de 0,51% e fechou a R$ 2,930 na venda. Em três dias, acumula alta de 0,96%.
Com uma demanda pequena pela moeda, os problemas políticos ganham pouco eco e não chegam a causar forte pressão na moeda, como no período pré-eleitoral de 2002.
Estresse e alívio
A diretora de câmbio da corretora AGK, Miriam Tavares, avalia que um afastamento de José Dirceu seria bem visto pelo mercado, embora pudesse causar um certo “estresse” no primeiro momento, principalmente junto aos investidores estrangeiros.
De acordo com ela, o mercado não gostou da postura de Dirceu, que atacou o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) e políticos tucanos, dificultando um apoio de parte do PSDB para superar a crise do caso Waldomiro Diniz.
Já há rumores no mercado, inclusive, de que o secretário de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica, Luiz Gushiken, substituiria Dirceu na Casa Civil.
Por outro lado, alguns analistas do mercado temem que uma eventual saída de Dirceu mostre que o governo cede fácil às pressões e agrave ainda mais a crise política.
Novos atentados
Além das questões políticas domésticas, o mercado está atento também ao quadro externo, em que ainda predomina o receio de novos ataques terroristas na Europa e nos Estados Unidos.
Segundo Francisco Carvalho, gerente de câmbio da corretora Liquidez, esse cenário dificulta as captações de recursos no exterior, o que colabora com a alta da moeda.
Carvalho avalia, porém, que não é interessante para os exportadores que o dólar fique muito barato. Portanto, quando a moeda bate R$ 2,90 aumentam os compradores e o dólar sobe.
“As exportações vão ser a máquina motriz do crescimento da economia brasileira. Então o dólar não pode ficar muito barato”, disse.