São Paulo – Na véspera do início da reunião do Copom (que começa hoje), o mercado parece estar convergindo para a idéia de que a Selic deverá ser elevada para conter a pressão inflacionária. Há ainda vozes dissonantes, prevendo manutenção do juro, por considerar que a alta dos índices foi provocada por uma bolha cambial, que deve ser revertida sem que seja necessário um ajuste de juro. Mas a maior parte do mercado discute mesmo é quanto o Copom precisará elevar a Selic para conter a alta de preços e, mais do que isso, reverter as expectativas do mercado em relação ao rumo da inflação.
Entre operadores e economistas, há previsões entre 0,5 ponto e dois pontos porcentuais. A aposta mais freqüente é de que o Copom elevará o juro em um ponto porcentual. Mas o que é comum a esses profissionais é a idéia de que, mais do que encarecer o custo do dinheiro a ponto de conter crédito e demanda, o que o Banco Central precisa é dar um sinal de que está atento à alta inflacionária e, com isso, reverter o movimento de repasses de custo que se verifica em toda a cadeia produtiva. “A onda de aumentos não se restringe mais à indústria e nem mesmo aos setores que têm seus custos relacionados ao câmbio. É por isso que o Banco Central não pode ficar inerte neste momento”, afirma um operador.
Além dos índices de inflação divulgados nos últimos dias apontando taxas recordes, justifica a aposta em alta de juros algumas outras questões. Uma delas é a expectativa dos economistas – verificada na pesquisa feita pelo Banco Central entre as instituições financeiras – para o IPCA de 2003, que já atingiu 9%, acima, portanto, da previsão para a inflação deste ano, de 8,75%.
Essa perspectiva do mercado de que a inflação deve subir ainda mais no próximo ano é que impõe, na avaliação de profissionais, uma ação monetária com o objetivo de reverter essa expectativa, que acaba por alimentar o ritmo ascendente de alta de preços. Outro ponto que pode pesar a favor de uma subida do juro são os dados sobre demanda e atividade industrial que, ainda que timidamente, apontam recuperação.
Outro fator que reforçou a expectativa de alta dos juros nesta reunião foi uma pesquisa realizada pelo Banco Central com departamentos econômicos de bancos na semana passada. Esse tipo de contato da autoridade monetária em véspera de reunião do Copom é comum. Mas, desta vez, as perguntas feitas aos economistas revelaram uma certa preocupação com a credibilidade do Banco Central em sua missão de conter a inflação – o que sugeriu, na interpretação de alguns, que o BC pode ser mais conservador desta vez.
O BC quis saber das instituições, além das expectativas para a Selic, qual seria a decisão correta. Perguntou também qual a avaliação sobre a decisão do comitê em combater a inércia inflacionária em dois anos e pediu comentários sobre o artigo sobre política de metas de inflação assinado pelo presidente Armínio Fraga e pelo diretor de Política Econômica, Ilan Golfajn e sobre o conteúdo da ata sobre a última reunião -quando o comitê manteve a taxa inalterada em 21%, embora tivesse elevado de 5% para 6% a previsão do IPCA para 2003. “Naquela ocasião, houve muitos questionamentos e críticas em relação ao Banco Central. Agora, diante do teor das perguntas feitas na pesquisa, ficou parecendo que o BC não quer ser interpretado como leniente com a inflação”, explicou um dos economistas ouvidos.
A dúvida sobre a capacidade do Banco Central em controlar a inflação fica mais clara quando se vê as projeções do mercado para o IPCA de 2003. As estimativas variam de 3,5% a 15%. “O que ficou claro é que a política monetária não está fazendo convergir as expectativas”, afirma um profissional. Uma maneira de corrigir esse ambiente de dúvidas, na opinião de economistas, é elevar o juro mais uma vez.