São Paulo – O forte aumento da inflação em outubro fez surgir a perspectiva de um novo aumento nos juros básicos na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, na semana que vem. Ontem, depois da divulgação da alta do IPCA de 0,72% em setembro para 1,31% no mês passado, acumulando 6,98% este ano, os contratos de juros futuros para janeiro pularam para 23,18% ao ano, de 22,86% na segunda-feira. No mês passado, o BC já elevou os juros básicos de 18% para 21%, justamente para tentar deter as pressões inflacionárias. Mas, como indicam os juros futuros, parte do mercado não acredita mais que o BC vá parar por aí.
“O BC terá de lidar com forças conflitantes”, diz o diretor de pesquisa para a América Latina da consultoria Ideaglobal, Ricardo Amorim. Por um lado, não só a inflação está em alta como também as expectativas de inflação – coletadas periodicamente pelo BC no mercado – vêm disparando nos últimos meses, o que alimenta aumentos futuros de preços. “Se o BC aumenta os juros, ele reduz a expectativa de inflação” imediatamente, diz Amorim, o que já contribui para diminuir pressões futuras.
Por outro lado, ressalta o pesquisador, nas últimas semanas houve uma queda no risco Brasil e no dólar. Mesmo com a alta de 2,7% registrada hoje, para R$ 3,61, a moeda americana já caiu 9,2% do seu pico de R$ 3,99 atingido em outubro. Mas Amorim trabalha com a perspectiva de que o dólar não cairá muito mais nas próximas semanas e acha que o BC “deveria elevar os juros” para combater a “real possibilidade” de uma taxa de dois dígitos no ano que vem.
A preocupação com as pressões inflacionárias imediatamente fez o mercado desconfiar da capacidade do próximo governo de reduzir os juros e estimular o crescimento econômico a partir do ano que vem. O governo atual já não vem cumprindo suas próprias metas de inflação desde o ano passado e o temor é de que o próximo governo aumente essa tolerância. A desconfiança levou o coordenador da equipe de transição, Antonio Palocci, a reafirmar que o Partido dos Trabalhadores não pretende indexar a economia, o que poderia trazer de volta a espiral inflacionária de antigamente, segundo analistas.
Embora grande parte da pressão inflacionária tenha sido causada pelos repasses da alta do dólar, um motivo de preocupação entre os analistas é que os aumentos vêm se espalhando para preços não relacionados à moeda americana, como os serviços. “Praticamente todos os setores estão tendo elevação dos preços”, diz o economista Luiz Afonso Lima, do BBV.