Brasília – As instituições financeiras e empresas de consultoria ouvidas em pesquisa semanal feita pelo Banco Central (BC) reforçaram na semana passada a descrença na possibilidade de o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechar o ano dentro da meta de 8,5%. O resultado de uma nova rodada de consultas divulgada ontem revelou um aumento da média das expectativas para o IPCA de 2003 de 12,06% para 12,33%, um percentual próximo dos 12,5% do ano passado. Apesar dos sinais de persistência da inflação a um patamar acima de 10%, os indicadores de previsão para o IPCA em 2004 continuaram a apontar para a possibilidade de o índice fechar o próximo ano em 8%.
Diante da piora das expectativas inflacionárias, o mercado optou por puxar para cima suas estimativas de juros para o fim de 2003, de 21,9% ao ano para 22%. A projeção, mesmo assim, ainda embute uma probabilidade de queda dos juros de 4,5 pontos percentuais em relação aos 26,5% fixados pelo Comitê de Política Monetária (Copom) em sua reunião do mês passado.
As expectativas de crescimento da economia seguiram em direção inversa e recuaram de 2,04% para apenas 2%. A projeção feita pelo BC em seu Relatório de Inflação de dezembro do ano passado era de que o Produto Interno Bruto (PIB) poderia se expandir em 2,4% neste ano. Naquela ocasião, os juros estavam em 22% ao ano e a taxa de câmbio rodava em torno de R$ 3,55.
As estimativas de déficit em conta corrente do balanço de pagamentos para 2003, por sua vez, recuaram de US$ 5 bilhões para US$ 4,9 bilhões na mesma pesquisa do BC. O valor é bem inferior aos US$ 13 bilhões de investimentos diretos estrangeiros projetados pelo mercado para ingressarem no País ao longo do ano. O problema, no entanto, é saber se os US$ 13 bilhões serão suficientes para fazer frente a eventuais saídas de recursos financeiros do País. No ano passado, os investimentos estrangeiros foram superiores ao déficit, mas o País só conseguiu fechar seu balanço de pagamentos com os recursos do Fundo Monetário Internacional (FMI) em função da fuga de capitais ocorrida naquele exercício.
A pesquisa divulgada ontem pelo BC também revelou que o mercado acredita que o superávit primário do setor público consolidado de 4,25% será o necessário apenas para estabilizar a dívida líquida do setor público num patamar de 55,7% do PIB. O percentual é apenas 0,2 ponto percentual menor que os 55,9% do PIB de dívida líquida registrada ao final do ano passado e em janeiro último. A queda da relação dívida/PIB poderá ser mais acentuada em 2004, quando o mercado espera que a dívida poderá ficar em 54,6% do PIB com um superávit primário de 4% do PIB.
Inflação preocupa, diz Palocci
O ministro da Fazenda, Antônio Palocci, afirmou ontem que a inflação brasileira inspira cuidados. Segundo ele, essa é uma preocupação do FMI e também do governo. Palocci disse que é preciso olhar com toda a atenção para a inflação. Ele admitiu que há, de fato, na economia brasileira uma contaminação dos preços. Palocci disse que há uma tendência de queda da inflação, mas ela não é suficiente para dizer que a questão esteja resolvida. O ministro disse também, em entrevista coletiva, que espera um resultado positivo da reunião do board do FMI, que tomará a decisão final sobre a revisão do acordo com o governo brasileiro. Segundo ele, a missão que esteve estudando a situação econômica brasileira fez uma avaliação serena da conjuntura e considerou positivos a meta de superávit primário fixada pelo governo e o comportamento da economia.
Porém Palocci disse que não há decisão do governo sobre eventual mudança da meta de inflação deste ano, fixada em 8,5%. “Não tomamos nenhuma decisão quanto à meta”, afirmou o ministro. Ele argumentou que uma eventual manutenção da meta não significa, obrigatoriamente, que os juros teriam que ser elevados ainda mais para manter a inflação sob controle. Segundo o ministro, os indicadores econômicos estão positivos e, com isso, a inflação não precisa ser controlada apenas com política monetária. Ele citou a política fiscal adequada e o câmbio, que tem se apreciado nas últimas duas semanas, como fatores que auxiliam a política monetária adotada pelo Banco Central.