O mercado de seguros tem capacidade de garantir riscos para um total de R$ 243 bilhões em investimentos no Brasil. No ano passado, a importância segurada foi de R$ 17,4 bilhões em obras públicas e privadas em todo o País, o que expõe uma grande folga nas operações do setor. O cálculo, feito pelo professor Gustavo Mello, da Escola Nacional de Seguros (Funenseg), desmonta o principal argumento do governo para a criação de uma seguradora estatal, ideia lançada na semana passada, que deixou em polvorosa o setor de seguros.
O projeto do governo leva em conta que o mercado não teria capacidade para garantir as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), de R$ 638 bilhões em quatro anos, da Copa do Mundo de 2014 e da Olimpíada de 2016. Analistas e representantes de corretoras cogitam que o real motivo para criação da empresa passa por questões políticas, incluindo eventuais pressões de construtoras.
“Pode haver empreiteiras interessadas dizendo que, sem a estatal, seria difícil conseguir as garantias necessárias para fazer o PAC”, afirma Fernando Pereira, da corretora Aon. Mello, da Funenseg, concorda. “O problema é que a maioria das construtoras está extremamente alavancada”, diz.
Em média, os seguros de garantia cobrem 20% do valor total da obra. Para se ter uma ideia, uma lista de seis grandes projetos – trem-bala Rio-São Paulo-Campinas; as hidrelétricas de Jirau, Santo Antonio e Belo Monte; as plataformas da Petrobras e o Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro) e os novos estádios previstos para a Copa do Mundo de 2014 – somam investimentos de R$ 116 bilhões. Esses valores, segundo especialistas, poderiam ser segurados integralmente pelo mercado.