O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta quinta-feira, 5, que o mercado de crédito brasileiro passou por um “choque grande” nos anos anteriores e que a recuperação está ocorrendo agora. “A ideia sempre foi reinventar o setor privado”, disse.
Durante sua apresentação em evento em Brasília, Campos Neto citou, em diversos momentos, a importância do crédito privado como substituto do crédito anteriormente fornecido por instituições estatais. “Queremos a troca do crédito público pelo privado”, afirmou.
Campos Neto afirmou ainda que a instituição não está contente com a queda do custo de crédito ao consumidor final, na comparação com a baixa mais recente da Selic (a taxa básica de juros), atualmente em 6,00% ao ano.
Segundo ele, porém, o spread – diferença entre o custo de captação dos bancos e o que é efetivamente cobrado do cliente final – é mais alto no Brasil em função da baixa recuperação de crédito e do tempo maior de recuperação.
Ao tratar de modalidades específicas de crédito, Campos Neto reafirmou a importância do crédito imobiliário e do crédito voltado para a infraestrutura. No primeiro caso, ele lembrou lançamento recente feito pela Caixa Econômica Federal, de linha de crédito imobiliário indexada ao IPCA (o índice oficial de inflação).
De acordo com Campos Neto, a indexação ao IPCA – e não à TR – vai favorecer a securitização. “O mercado no Brasil é pouco securitizado. Criamos instrumentos, indexadores, mais fácies de serem securitizados. Queremos criar mecanismo para mercado poder securitizar”, disse.
Em relação à infraestrutura, Campos Neto afirmou que o BC desenhou algumas medidas para que a oferta aumente. Uma delas é o mecanismo de proteção cambial, cujo projeto, conforme Campos Neto, está pronto.
Educação financeira
Campos Neto pontuou ainda, em sua apresentação, que a educação financeira é a chave para combater alguns dos problemas na área de crédito. Segundo ele, uma das ideias discutidas é o lançamento de uma espécie de “programa de milhagem”, em que pessoas que fizerem cursos de educação financeira ganharão descontos em produtos financeiros. Ele não deu, porém, mais detalhes sobre a iniciativa.
Simplificação cambial
O presidente do Banco Central afirmou também que a finalidade do projeto de simplificação cambial, a ser apresentado pelo governo, é permitir que o real seja uma moeda conversível. Segundo ele, o projeto de simplificação cambial está pronto e deve ser votado “em breve”.
De acordo com Campos Neto, o projeto tratará de três vertentes principais para o câmbio: modernização, simplificação e segurança jurídica.
Campos Neto também tratou do projeto de autonomia do Banco Central, uma das bandeiras mais antigas da instituição. “Espero que projeto seja votado nas próximas semanas”, afirmou. “Já temos projeto de autonomia pronto. Ele deve avançar em breve”, acrescentou.
Compulsório
O presidente do Banco Central afirmou também que o Brasil tem atualmente um “volume de compulsório alto, em torno de R$ 400 bilhões”. Segundo ele, a Assistência Financeira de Liquidez (AFL), que prevê a criação de duas novas linhas de crédito para as instituições financeiras, permitirá “reduzir bastante” os compulsórios.
Anunciadas no início de julho, estas linhas terão como garantia títulos e valores mobiliários emitidos por entidades privadas – e não apenas títulos públicos, como ocorre hoje nas operações de redesconto feitas pelo BC com os bancos.
De acordo com Campos Neto, existe atualmente um “estigma” no mercado bancário em relação ao uso do redesconto. Com as novas linhas, a intenção do BC é aumentar as possibilidades de acesso à liquidez pelos bancos.
Campos Neto, participou na manhã desta quinta-feira da conferência “Agenda do Brasil para Crescimento Econômico e Desenvolvimento”, promovida pelo Council of the Americas (COA).
No encerramento de sua apresentação, ele pontuou: “Estamos em um processo de se reinventar com o dinheiro privado.”