O chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Tulio Maciel, afirmou nesta quarta-feira, 26, durante entrevista coletiva à imprensa, que o mercado de crédito esboçou reação em março. “Não visualizávamos isso até então”, afirmou.
Segundo ele, não são apenas os avanços na margem verificados no saldo de operações que indicam a melhora, mas todo um conjunto de indicadores de crédito. “O movimento de reação foi observado no crédito total, no direcionado e no livre”, destacou Maciel. Em março, conforme os dados do BC, o saldo de crédito total subiu 0,2% ante fevereiro, enquanto o direcionado teve alta de 0,1% e o livre avançou 0,3%.
Ao abordar as taxas de juros, Maciel chamou atenção para o fato de as taxas médias cederem 0,1% no crédito total em março ante fevereiro e recuarem 0,9% em no crédito livre. “O recuo dos juros era esperado, considerando a redução da Selic”, disse Maciel. “Espera-se que, iniciado o processo de queda de juros, isso continue nos próximos meses.”
No direcionado, segundo ele, o avanço de 0,6% da taxa de juros média é resultado da sazonalidade. “O direcionado teve um efeito-calendário para subir, porque valor da TR taxa referencial mensal flutua conforme os dias úteis. Houve queda em fevereiro e agora voltou a subir em março”, explicou Maciel. “Como vários empréstimos do direcionado têm indexação com TR, vimos esta alta”, acrescentou. A TR fechou fevereiro em 0,23% e terminou março em 1,13%.
Veículos
Tulio Maciel destacou também a alta do crédito para pessoas físicas na compra de veículos. Conforme os números do BC, as concessões de crédito nesta modalidade avançaram 28,5% em março ante fevereiro. No acumulado de 2017, o avanço é de 18,8% e, em 12 meses, o recuo já está em apenas 0,8%.
Maciel citou ainda o crédito consignado e o crédito à vista via cartão, que tiveram altas do saldo de 0,8% e de 2,7% respectivamente, em março ante fevereiro.
No caso das empresas, porém, Maciel citou um ambiente ainda de estabilização do crédito, com melhora em 12 meses. “O capital de giro para pessoa jurídica ainda mostra retração (na margem), mas há arrefecimento em 12 meses”, exemplificou. “A dinâmica é um pouco melhor que em períodos anteriores.”
Maciel lembrou ainda que os indicadores de confiança têm demonstrado melhora gradual. “E para a pessoa física, isso vem mais rápido. Vemos um processo de desalavancagem de empresas e famílias, só que mais rápido para pessoas físicas”, disse.
Ainda assim, Maciel afirmou que vários fatores embasam os sinais de melhora na economia. Entre eles, o economista citou a queda da inflação e até o comportamento do mercado de trabalho. “Vemos tendência de redução da perda de postos de trabalho”, disse.
Financiamento imobiliário
O chefe do Departamento Econômico do Banco Central pontuou que as condições de financiamento imobiliário atualmente não são tão favoráveis como no passado. Segundo ele, isso justifica, em parte, o fato de o crédito imobiliário apresentar nos últimos meses taxas de crescimento mais estáveis, em torno de 6% ou 7%.
“O crédito imobiliário cresceu 50% em 2010 e teve um protagonismo muito acentuado”, lembrou Maciel. “Mas as condições de financiamento imobiliário hoje não são tão favoráveis como no passado. Houve mudança relevante na questão do financiamento. Chegamos a ter taxas de juros em torno de 7,5% em períodos anteriores e agora elas estão mais altas”, disse. Em março, a taxa média de juros no crédito imobiliário para as famílias foi de 9,8% ao ano.
Inadimplência
O representante do BC afirmou também que ainda não é possível verificar mudanças nos níveis de inadimplência de pessoas físicas em função do início do processo de liberação do FGTS pela Caixa Econômica Federal. Conforme os dados do BC divulgado nesta quarta, a inadimplência para pessoas físicas seguiu em 4,0% em março.
“A taxa de inadimplência permanece estável, não foi possível visualizar mudança com o FGTS. Mas ainda é cedo para isso, porque a liberação começou em meados de março”, disse.