De acordo com o agrônomo Ottmar Hubner, responsável pela área de trigo no Deral, o preço de garantia anunciado nesta semana pelo Conselho Monetário Nacional R$ 400,00 a tonelada cobre os custos variáveis, fixados em R$ 356,00 a tonelada, e não os custos totais R$ 526,00 na atualidade. De qualquer forma, representa reajuste de 40% em comparação ao preço anterior.
Como a agricultura trabalha apenas com os custos variáveis – desembolso direto para preparo do solo, semeadura, tratos culturais e colheita- e não com fatores como terra e capital investido, os produtores encontram no trigo a alternativa para não deixarem as terras ociosas no inverno e ainda obterem razoável rentabilidade financeira.
O técnico explica que a planilha de custos leva em consideração determinadas quantias de insumos que nem sempre são utilizados por não serem tecnicamente necessárias. O consumo completo desses itens acontece quando da incidência de pragas e doenças provocadas por intempéries ou problemas fitossanitários. Porém, se as condições de tempo forem favoráveis, os custos caem, sendo parte dos insumos guardada para a próxima semeadura.
Segundo Annibal Bianchini da Rocha, presidente do Sindicato Rural de Maringá, os triticultores que investem nesta cultura não estão de olho nos preços de garantia assegurados pelo governo. “Ninguém planta pensando no mínimo, mas nos preços praticados pelo mercado. O mínimo funciona apenas como mecanismo de defesa se as cotações desabarem,” comenta.
Isto é verdade. Tanto que a expectativa pelo aumento de cinco por cento na área de trigo em 2003, no Estado, justifica-se pelo preço remunerador pago pelo mercado na atualidade: R$ 510,00 a tonelada. E como as perspectivas são favoráveis, com estoques mundiais baixos, demanda aquecida e câmbio favorável, os produtores depois de uma safra de soja muito lucrativa estão capitalizados e acreditam complementar a liquidez com o trigo. Para isto, porém, é importante a manutenção do dólar em torno de R$ 3,40/R$ 3,50. Assim, o mercado agrícola continuaria favorável aos produtores.
A produtividade paranaense no trigo também anima: 2,2 toneladas por hectare. Os técnicos não demonstram preocupação pelo fato de, até agora, não mais de um por cento do total de 1,13 milhão de hectares ter sido plantado no Paraná. Como a época para plantio recomendada pelo Instituto Agronômico do Paraná estende-se até final de julho, os produtores rurais não perdem o foco e aceleram no final da colheita de soja, esta sim altamente remuneradora.
Por sua vez, o agrônomo Jorge Proença, analista da Federação da Agricultura do Paraná, reconhece o esforço governamental na fixação em R$ 400,00 do preço de garantia da tonelada. Argumenta ser isto importante para compensação no aumento nos custos de produção determinado principalmente pela variação do dólar e com reflexo direto nas cotações dos insumos. Parte da matéria-prima utilizada em sua fabricação é importada.
O setor tritícola espera, ainda, pelo lançamento oficial dos contratos de opções de venda a preços que reflitam os custos reais e com vencimento em épocas adequadas. Não é só isto. “Precisam ser definidos o quanto antes os critérios de seguro agrícola para o trigo”, adverte. Trata-se de cultura muito vulnerável às variações climáticas.
“Se acontecer frustração de safra, o produtor vai ficar com grandes prejuízos que certamente comprometerão a rentabilidade obtida na soja. Daí, a importância do seguro”, diz o técnico da Federação da Agricultura do Paraná. A legislação em tramitação no Congresso Nacional permite ao Governo Federal subvencionar as taxas de prêmios, possibilitando ao triticultor garantir a produção de acordo com custos compatíveis e segundo a rentabilidade da lavoura.