Algumas suposições fundamentais sobre como funciona a economia global estão sob forte questionamento, e os políticos devem repensar seus conceitos sobre crescimento, taxas de câmbio e os fluxos de capitais, disse neste sábado Benoît Coeuré, membro do conselho executivo do Banco Central Europeu (BCE).

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“A forma como lidamos com essas questões em aberto irá condicionar a capacidade de resistência do sistema econômico global, ou seja, a sua capacidade de voltar ao equilíbrio sem intervenção política”, disse Coeuré em seu discurso durante uma conferência organizada pela Universidade da Califórnia – Berkeley, nos Estados Unidos. “Isso é de uma importância fundamental para os bancos centrais. Se ignorarmos essas questões, há um risco de que as políticas monetárias tornem-se ineficazes, sobrecarregadas ou presas em equilíbrios inconstantes.”

A palestra de Coeuré se concentrou no que foi descrito como “suposições-chave” nas últimas décadas: que a realocação de demanda em economias, em resposta a choques, deveria “manter um ritmo adequado de crescimento global;” que “as taxas de câmbio livremente flutuantes apoiariam tais mudanças na demanda, e geralmente funcionam como amortecedores na economia global;” e que “o capital de fluxos entre fronteiras pode trazer o benefício da partilha de riscos, e tornar ajustes internacionais mais suaves, além de apoiar uma eficiente alocação internacional de capital”. No entanto, ele disse, ” as investigações teóricas e empíricas recentes começaram a desafiar essas três hipóteses.”

Coeuré ofereceu algumas observações sobre a economia da zona do euro, mas não comentou especificamente sobre as perspectivas de curto prazo para a política monetária.

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Ele disse que a zona do euro “construiu-se com um superávit em conta corrente crescente, impulsionado por uma incapacidade duradoura para reavivar a demanda doméstica.” Sobre o papel da política fiscal, ele disse que para os países “que têm espaço fiscal suficiente, é realmente difícil ver uma expansão das contas perto de zero como algo positivo para a economia global. No entanto, é assim que eu classificaria essa política, para economias em que o espaço fiscal é espremido por uma elevada e crescente dívida pública, como é o caso na maior parte da área do euro hoje. “

Ele também disse que na zona do euro, “o investimento privado não está fazendo o papel de aceleração que seria de se esperar nesta fase do ciclo de negócios, mesmo com a demanda doméstica ganhando força gradualmente. Uma razão para isso está nas baixas expectativas sobre o potencial de crescimento futuro, que levam empresas que esperar rendimentos e lucros permanentemente mais baixos.”

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O presidente do BCE, Mario Draghi, sinalizou ontem (20) que a autoridade monetária europeia pode anunciar medidas de estímulo adicionais, na sua reunião 03 de dezembro. “Se concluirmos que o balanço de riscos para a estabilidade de preços, que é nosso objetivo a médio prazo, está com tendência negativa, nós vamos agir usando todos os instrumentos disponíveis dentro de nosso mandato”, disse Draghi. Fonte: Dow Jones Newswires.