O Brasil já teve metas de câmbio nos anos 90 e o resultado não foi positivo, uma vez que acabou na crise cambial de 1998. A afirmação foi feita pelo presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, durante audiência pública conjunta realizada na Câmara. De acordo com ele, a maior parte dos países abandonou o câmbio fixo ao verificar problemas no balanço de pagamentos e, em outros casos, por causa da inflação. “O resultado do modelo meta de inflação com câmbio flutuante é extraordinariamente positivo”, avaliou, acrescentando que a decisão pela continuidade deste modelo cabe à Nação.
Questionado por um parlamentar a respeito da existência de um antídoto contra a volatilidade cambial, Meirelles respondeu que a instabilidade possui vários componentes. “Este é o problema, pois muitos deles estão fora das fronteiras”, comentou. Um dos itens que geram volatilidade para a taxa de câmbio no Brasil, segundo o presidente do BC, é o próprio dólar. Ele lembrou que a moeda estava cotada a US$ 1,60 por euro e repentinamente passou para US$ 1,45 por euro. “Se fixarmos nossa taxa de câmbio ao dólar, estaremos transferindo a outro país soberano a responsabilidade sobre a flutuação da moeda”, observou.
Meirelles acrescentou que, de qualquer forma, esse atrelamento não eliminaria a volatilidade, pois ao exportar para a Europa, por exemplo, ela continuaria. “Volatilidade é resultado, em muito, de condição macroeconômica”, disse. Ele lembrou que os comportamentos de sobe e desce não estão restritos ao câmbio. “O mundo vive em crise que gera alta volatilidade para vários indicadores”, salientou, citando a Bolsa de Valores, preços e taxa de crescimento.
Meirelles disse que a valorização cambial tem o aspecto positivo de estimular o investimento, já que o real valorizado barateia a importação de máquinas e equipamentos (bens de capital) e outros componentes. Meirelles voltou a advertir os agentes econômicos sobre o risco de se apostar que o mercado se move em uma única direção e relembrou as perdas bilionárias que as empresas tiveram apostando que o real continuaria se valorizando ante o dólar.
“O mercado funciona em duas direções sempre”, afirmou Meirelles, citando que, hoje, a moeda norte-americana estava cotada a R$ 1,96, depois de ter sido negociada a R$ 1,92. “Essa história de dizer que (o dólar) vai chegar a R$ 1,00…teve muita gente que já quebrou com isso”, afirmou.
Eximbank
A criação de um banco voltado para as exportações brasileiras, nos moldes de um Eximbank, conforme adiantou a Agência Estado, está na direção correta, na avaliação do presidente do Banco Central. “O estudo é válido, acho que é algo que faz sentido”, disse durante a audiência pública na Câmara.
Meirelles ressaltou, porém, que é preciso levar em conta a relação custo/benefício da criação de um Eximbank, previsto para entrar em operação até o fim deste ano. Entre os itens apontados por ele estão: crédito, rentabilidade, custos e questões fiscais, entre outros. “É adequado que o Brasil estude o assunto com seriedade”, afirmou. O Eximbank é uma estrutura administrativa dedicada exclusivamente a financiar as exportações e a produção destinada ao mercado exterior.
Reservas e Fundo Soberano
O presidente do BC disse que o Brasil está em pleno processo de acumulação de reservas internacionais e que há espaço ainda para a ampliação desses recursos de forma bastante confortável. “O volume adequado para o País é maior do que aquele que se previa antes da crise financeira”, afirmou.
Meirelles defendeu que o fato de o País ter acumulado reservas, e a existência delas em si, fazem com que o fluxo não saia de forma tão rápida do País. “Uma das razões para o País ter obtido o grau de investimento foi as reservas”, afirmou.
Indagado por parlamentares se este não seria o momento de aquisição de moeda estrangeira para composição do Fundo Soberano do Brasil (FSB), Meirelles respondeu: “não é ainda o momento”. De acordo com ele, existem razões sólidas para essa negativa, já que o País passa por um processo de recomposição do fluxo, enquanto o FSB possui um foco mais estratégico. “Quando tomada, se tomada (a decisão de compra de dólares para o FSB), será uma medida estratégica”, disse. Meirelles acrescentou que a atuação feita diretamente no mercado pelo BC possui uma visão mais estrutural e/ou conjuntural.
