O presidente do Banco Central, Henrique Meirel-les, disse ontem que "não há necessidade de o governo brasileiro e também de os governos de outros países controlarem o processo de ajuste do dólar". A afirmação mostra que o BC brasileiro não deve ir a mercado comprar a moeda norte-americana para conter sua queda e também para aproveitar para recompor as reservas internacionais brasileiras.
O dólar passou de patamares próximos a R$ 2,90 nas últimas semanas para cerca de R$ 2,74 ontem. A queda acompanha a desvalorização mundial do dólar ante o euro e o iene. Apesar da afirmação de Meirelles, o banco divulgou na semana passada que o Tesouro Nacional vai comprar US$ 3 bilhões adicionais até junho de 2005, para pagar a dívida externa.
"O que se pode fazer é manter os mercados flexíveis e eficientes para que o processo se dê da maneira menos dramática possível e com maior eficiência", disse Meirelles, durante evento, ontem, em São Paulo.
Segundo o presidente do BC, "certamente não será o governo americano ou outros governos que vão impedir o ajuste estrutural da economia dos EUA", o que acabaria tendo reflexo no dólar.
"Com a profundidade dos mercados hoje, com os movimentos de câmbio e os ajustes ou desajustes das economias, é muito difícil se controlar a tendência da taxa de câmbio no longo prazo e ainda mais difícil de se prever esse movimento."
Para analistas de mercado, o dólar só voltará a se valorizar ante as outras moedas quando o governo reduzir o déficit em transações correntes – que mede a entrada e saída de divisas de um país – e o déficit público – que mede a diferença entre a arrecadação e os gastos de um governo.
Na avaliação de Meirel-les, não há dúvidas de que existe um movimento estrutural de ajuste no elevado déficit em conta corrente americano. "Isso certamente está provocando um ajuste do dólar em relação às demais moedas."
Segundo ele, no entanto, esse não é o único mecanismo de ajuste que está influenciando o dólar. "Existe uma série de outros aspectos na economia americana que poderão ajudar neste processo de ajuste, como a taxa de poupança doméstica ou mesmo a poupança pública dos EUA."
Divergências
O preço do dólar gera bastante polêmica dentro do governo. Enquanto Meirelles e a equipe econômica têm defendido uma política de não-intervenção, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento) expõem abertamente uma visão de que o dólar barato prejudica o país.
Para Lula, "seria melhor" para o exportadores caso o dólar permanecesse entre R$ 2,90 e R$ 3,10. Já Furlan afirmou que o dólar está "barato" e que as empresas endividadas deveriam aproveitar o "bom momento" para comprar a moeda e liquidar dívidas atreladas à moeda americana.
Acordo com o FMI
O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, disse ontem que o Brasil pode não renovar o acordo com o FMI (Fundo Monetário Nacional). "É possível o Brasil andar com as próprias pernas. É possível não renovar o acordo com o FMI. O Brasil ainda não tomou a decisão final, mas é essa a direção (de não renovar)."
O acordo entre o Brasil e o Fundo foi fechado no período de transição entre os governo FHC e Lula, em 2002. Em dezembro do ano passado, esse acordo foi prorrogado para março de 2005. Se for considerada apenas a renovação, essa é a quarta revisão. A próxima revisão ocorre no início do ano que vem.
Uma das justificativas para que o acordo não seja renovado, segundo Meirelles, é a melhora nos fundamentos econômicos do Brasil. De acordo com o presidente do BC, as reservas internacionais líquidas do Brasil estão em torno de US$ 50 bilhões.
Política fiscal no Senado
Está prevista para hoje, às 10h, a presença do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) do Senado. Ele deverá apresentar os resultados das políticas monetária, de crédito e cambial. No entanto, até o início da tarde, a assessoria de imprensa do BC ainda não havia confirmado sua presença na audiência.
A sessão irá ocorrer de forma conjunta com outras cinco comissões do Senado e da Câmara, entre elas a de Fiscalização e Controle e a mista de Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização.
Em sua exposição, Meirelles irá falar sobre o impacto e o custo fiscal das operações da autoridade monetária e os resultados dos balanços.
Nesta semana, a Câmara dos Deputados deve votar a medida provisória que dá status de ministro ao presidente do BC. Outras 18 medidas provisórias e três projetos de lei estão com o prazo de tramitação vencido e possuem prioridade de votação sobre outras propostas.