O ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, afirmou neste sábado que a manutenção do grau de investimento do Brasil pelas agências de classificação de risco depende do cumprimento do compromisso fiscal pelo governo. “Não estou prevendo downgrade; é possível evitá-lo e a manutenção do grau de investimento depende da confiança das agências com metas fiscais e o governo precisa cumprir compromisso fiscal para evitá-lo”, disse ele, ao chegar em Ribeirão Preto (SP) para um encontro do PSD, partido ao qual é filiado.
Meirelles admitiu ser possível que, no caso da Standard & Poors, haja um rebaixamento do Brasil com manutenção do grau de investimento, já que a nota do País está dois níveis acima desse patamar. “Evitar o downgrade, portanto, vai depender das medidas fiscais tomadas este ano e vamos aguardar se, de fato, o 1,9% (de superávit primário sobre o PIB) vai ser atingido, o que é importante”, disse. “O downgrade realmente seria negativo, desnecessário e traria aumento custos não para o governo e para empresas”, completou.
Indagado pelo Broadcast se o cenário macroeconômico atual obrigará o governo a tomar medidas fiscais ainda mais duras em 2015, independente de quem seja o próximo presidente, Meirelles afirmou que o ajuste será necessário, mas “não tão forte como o de 2003”, numa referência ao aperto tomado no primeiro ano de governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quando assumiu o BC. “Não será necessário um ajuste tão forte como o de 2003, mas certamente será necessário um ajuste e vai depender do que for feito em 2014”.
O ex-presidente do Banco Central mostrou preocupação com a inflação constantemente acima do centro da meta de 4,5% e próxima ao teto de 6,5%. “A inflação constantemente acima da meta de 4,5% não é bom, é preocupante e o BC tem de operar de forma ativa e ser vigilante o tempo todo com a inflação”, disse. Segundo ele, há o consenso do mercado é uma inflação em torno de 6%, o que tomar o porcentual “uma estimativa bastante razoável” para o fechamento de 2014.
“Inflação é preocupação constante em qualquer país e em qualquer tempo. E com o histórico de hiperinflação, isso pode ser agudizado no Brasil. A meta é 4,5% e o Brasil tem de perseguir a meta; nos oito anos do governo anterior (quando esteve no governo), cinco anos a inflação ficou acima e três abaixo da meta”, afirmou Meirelles.
O ex-presidente do BC considerou ainda que o patamar de crescimento do PIB em 2014 deve ficar em torno de 2% e que, mesmo com os indicadores antecedentes mostrando uma economia ainda aquecida, é difícil prever uma alta maior. “Há muita volatilidade na economia, principalmente da indústria”, explicou.
Meirelles considerou ainda que as variações do dólar dependem mais, no curto prazo, dos fatores geopolíticos, com a crise na Ucrânia e com o comportamento da economia chinesa, do que com a decisão o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) de retirar liquidez no mercado. “O Fed está diminuindo a injeção de liquidez, mas não está pisando no freio, está diminuindo o pé no acelerador. Poderá pisar no freio no próximo ano, mas isso está precificado”, concluiu Meirelles, antes de dar sua resposta tradicional ao ser indagado sobre o comportamento da taxa básica de juros nos próximos meses.
“Eu tenho como política de boa prática de ex-presidente do BC de não fazer previsões e nem comentários sobre as ações do BC”.