Motor do mercado imobiliário, o Minha Casa Minha Vida chegou a responder por dois terços dos negócios do setor nos últimos anos. Mas a redução de recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para abastecer o programa habitacional obrigou incorporadoras como MRV e Direcional a revisarem suas estratégias e redirecionarem parte dos projetos para o segmento de médio padrão – com o desafio extra de readequar seu modelo de negócios.

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Copresidente da MRV, Eduardo Fischer afirmou que já há menor disponibilidade de recursos no FGTS do que antes. “Em vez de ficar com o risco na mão, que é a limitação do FGTS, vamos nos expor menos ao programa”, disse. A MRV é a maior operadora do Minha Casa Minha Vida, com cerca de 10% de participação no volume anual de obras contratadas. A empresa comunicou que reduzirá gradualmente os projetos do programa em seu portfólio do nível atual de 80% para cerca de 40% nos próximos anos.

O plano de mudança, porém, foi alvo de ataques do mercado, que vê riscos na transição. O Credit Suisse publicou relatório rebaixando a recomendação para as ações da MRV para “underperform”, o que significa uma perspectiva de desempenho abaixo da média do mercado.

Os analistas Luis Stacchini, Eduardo Quiroga e Vanessa Quiroga, do Credit Suisse, afirmaram que o redirecionamento de parte dos projetos da MRV para o setor de médio padrão é necessário para manter o tamanho da empresa em meio à diminuição prevista do Minha Casa. No entanto, eles estimaram que essa mudança levará tempo para ser implementada, vai sugar recursos do caixa e diminuir os retornos no curto prazo, o que justificou o corte nas projeções para as ações da empresa.

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A mesma estratégia foi adotada pela Direcional. A empresa anunciou que também vai ampliar os lançamentos de imóveis fora do Minha Casa, com preços um pouco acima do teto do programa, o que a companhia chama informalmente de “faixa 4”.

A mudança vem na esteira de gargalos de recursos do programa, e na oportunidade de financiar os empreendimentos com linhas de crédito de mercado cujas taxas foram reduzidas. “Há uma oportunidade enorme pela frente com as mudanças no cenário macroeconômico”, afirmou o presidente da Direcional, Ricardo Ribeiro, durante reunião com investidores e analistas de mercado.

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Perspectivas

A mudança de foco das construtoras leva em conta o movimento crescente de negócios no segmento de médio e também de alto padrão, que parece ter deixado no passado o período de crise. Os balanços do último trimestre das companhias mostraram redução dos estoques e aceleração de novos projetos, apontando para um novo ciclo de crescimento. São os casos de Cyrela, Even, Eztec, Helbor e Trisul.

A avaliação de analistas é que, mesmo sem a recuperação do emprego e da renda dos consumidores, a queda acentuada nas taxas de juros do crédito imobiliário garantiu aumento do poder de compra nos estandes. O diretor de relações com investidores da Eztec, Emílio Fugazza, classificou o atual momento como de retomada. “Alguns fatos nos indicam que é um ‘boom’. Um deles é a velocidade de vendas. Não temos nenhum projeto com menos de 60% das unidades vendidas em seis meses.”

O diretor-presidente da Even, Leandro Melnick, espera um aumento no preço dos imóveis ao longo dos próximos trimestres, após anos com reajustes reprimidos pela crise nacional. Segundo ele, o escoamento do excesso de imóveis nos estoques e os lançamentos de novos projetos nos bairros mais nobres e de maior demanda darão força a um movimento de alta nos preços. “Estamos bastante positivos para o quarto trimestre”, afirmou ele, durante reunião com analistas de mercado.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.