Dezesseis anos após o Plano Real, a economia brasileira ainda não conseguiu se livrar da indexação, a correção automática dos preços pela inflação passada. Ela é responsável por cerca de 15% da inflação dos últimos meses, segundo cálculo do economista Heron do Carmo, presidente do Conselho Regional de Economia (Corecon) de São Paulo.
A influência se dá pela correção de preços como aluguel, tarifas de ônibus e mensalidades escolares, todos reajustados, formal ou informalmente, com base nos índices de inflação. Embora esse mecanismo de perpetuação da inflação preocupe o governo, não há nenhuma medida em estudo para atacar a indexação. Avalia-se que a melhor forma de livrar os agentes econômicos desse vício é a queda consistente da inflação.
“Quando a meta de inflação for mais baixa, os prazos de correção dos contratos poderão ser mais longos do que um ano e assim a indexação vai desaparecendo”, comenta uma fonte. A meta é de 4,5% para 2011 e 2012.
Atualmente, medidas em estudo no governo estão na direção contrária: vão indexar ainda mais a economia. Nos próximos dias, será enviada ao Congresso uma medida provisória fixando o salário mínimo de 2011 e estabelecendo que será corrigido pela inflação do ano anterior, acrescido do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de dois anos atrás. Essa indexação foi criada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2006, mas ainda não está em lei. A presidente Dilma Rousseff o fará.
Peso
Mais de 40% do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fipe são de produtos ou serviços que, de alguma forma, levam em consideração aumentos da inflação passada em seus reajustes, formal ou informalmente. No caso do IPCA, o peso desses itens é de 46% e no IPC-Fipe é de 44%, apontam estudos da Tendências.
“A indexação da economia já foi muito maior”, afirma o sócio da consultoria, Juan Jensen, destacando que, em períodos de escalada inflacionária, o ímpeto dos agentes econômicos de indexar preços é retomado.
Bráulio Borges, economista chefe da LCA Consultores, ressalta também que, neste ano, os preços carregam uma “herança maldita de 2010” num momento ruim como o atual, em que as commodities estão em alta. Isto é, a referência para os reajustes neste ano é o IPCA do ano passado, que atingiu 5,91%. Esse parâmetro é bem superior ao de 2010, que havia sido de 4,3%: a inflação acumulada em 2009.
Nas contas de Borges, para um IPCA estimado em 5,2% para este ano, os preços dos serviços livres devem subir 7,7%, praticamente a mesma variação registrada em 2010 (7,6%) por causa da “herança maldita”.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
