As medidas argentinas de contenção da saída de capitais do país podem não ser suficientes para evitar uma desvalorização do peso no curto prazo, avaliam analistas de mercado ouvidos pela Agência Estado. O mercado prevê que a taxa de câmbio do peso em relação ao dólar deverá registrar uma depreciação até o fim do ano, passando dos atuais 4,265 pesos por dólar para entre 4,40 a 4,50 pesos por dólar. Uma fonte do BC garantiu à AE que a autoridade monetária não permitirá oscilações abruptas da moeda. “O BC está acompanhando os movimentos e tomará todas as medidas necessárias”, avisou a fonte do BC.

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No mercado, há boatos de que a autoridade monetária poderá impor maiores restrições para a compra de dólares. “O governo não pode deixar o câmbio fixo como está, e para atuar tem duas opções: ou fazer uma desvalorização forte ou deixar o câmbio continuar deslizando, como tem feito até agora, mas em um ritmo mais rápido”, opinou o ex-secretário de Finanças Miguel Kiguel, analista da consultoria Econviews. “A expectativa é chegar a uma correção maior do câmbio, em torno de 18%, em lugar de 7%, como ocorreu neste ano”, afirmou um diretor de um banco estrangeiro instalado no país, que prefere não ser identificado. O executivo explicou que a correção é importante para acompanhar a inflação, que tende a ser menor no próximo ano, mas tudo vai depender das negociações salariais.

Em 2011, a inflação anual medida pelo governo é de 10,9%, enquanto o cálculo feito por analistas privados varia de 22% a 25%. A média dos reajustes salariais também ficou na faixa de 25%. Fontes da União Industrial da Argentina (UIA) informaram que “há o entendimento no governo de que não será possível validar aumentos similares aos concedidos neste ano”. A ideia é reduzir as expectativas inflacionárias com acordos de reajustes salariais em torno de 18%.

A alta dos preços tem motivado as compras de dólares por parte de pessoas jurídicas e físicas, que temem desvalorizações profundas da moeda nacional. Para conter essa busca por dólares, o Banco Central da República Argentina (BCRA) tem sofrido uma grande pressão sobre as reservas internacionais. O quadro se completa com a menor entrada de divisas na Argentina. “A soja vale menos, e entram menos dólares dessas exportações. O real também teve correção, o que também reduz a competitividade das exportações argentinas”, ressaltou Kiguel. Some-se a isso o forte movimento de saída de capitais do país em 2011, que já chega a US$ 21,8 bilhões, em comparação com a fuga total de US$ 11,4 bilhões em 2010. Segundo cálculos da Empiria Consultores, a fuga de capitais chegará a US$ 3,6 bilhões em outubro, um volume recorde. Se o valor for confirmado, será a segunda maior fuga de capitais desde 2002, o primeiro ano depois do default da dívida. O maior volume de saída de recursos da Argentina desde então ainda é o de outubro de 2008, após o colapso do Lehman Brothers e a estatização dos fundos de pensão pelo governo argentino, com US$ 4,35 bilhões.

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Os operadores das mesas de câmbio disseram, no entanto, que o mercado se acalmou com a nova norma, anunciada na quarta-feira, que obriga as empresas de petróleo e gás e as mineradoras a venderem os dólares obtidos pelas exportações no mercado doméstico. Ontem, outra medida reforçou a anterior, dando prazo até 31 de dezembro às seguradoras para repatriarem seus ativos no exterior. O BC estima que a primeira medida produza o ingresso de US$ 4 bilhões a US$ 5 bilhões por ano no mercado doméstico. Até dezembro de 2011, a medida traria cerca de US$ 1 bilhão. Com a segunda norma, o mercado receberia mais US$ 1,6 bilhão até o fim deste ano. “É como jogar um balde de água em uma terra castigada pela seca. Ajuda, mas não resolve o problema de fundo”, resume Kiguel.