“Ficou para quando Deus quiser”, diz Vicente Falconi sobre sua aposentadoria, cuja data marcada era fevereiro de 2019. O consultor, porém, afirma que já não se envolve mais no dia a dia da empresa e participa apenas de reuniões do conselho. “Às vezes atuo até um pouco fortemente (no conselho). Com o tempo, isso vai diminuir. Quando a empresa alcança um ritmo de voo, ela está pacificada. Aqui ainda há solavancos”.
Sobre os rumores de que a consultoria seria contratada pelo governo de Jair Bolsonaro para melhorar a gestão pública, Falconi se recusa a falar. “Tenho horror a conjecturas. Não tem nada concreto.”
O sr. havia anunciado que se aposentaria no início de 2019. Por que o plano foi postergado?
A transição não ocorreu da forma planejada em 2012. Tivemos altos e baixos. Algumas crises…
A saída do ex-presidente Mateus Bandeira?
Não gostaria de citar nomes. Algumas crises. Não foi só uma. Um de nossos conselheiros (Edson Bueno) morreu, outro saiu (Marcel Telles). Os dois (conselheiros) restantes me falaram: você vai ter de ficar mais tempo. Eu já tinha praticamente me aposentado, já estava afastado.
Desde quando?
Desde que começou a transição (em 2012). Tínhamos esse conselho: entregar tudo (a participação acionária e as atividades) para a diretoria e os sócios. Eu realmente me afastei. Só fazia alguma coisa quando os sócios me chamavam para ajudar. Me afastei muito e isso não foi bom. Eles (os então conselheiros Beto Sicupira e Pedro Moreira Salles) me chamaram. Atendi o conselho e estou perto dos sócios agora, mas não interfiro no dia a dia.
A aposentadoria ficou para quando?
Quando Deus quiser. Na verdade, eu estou aposentado. Mas acho que, no meu caso, se afastar completamente vai ser impossível. No conselho, eu atuo. Às vezes, até um pouco fortemente. Mas, com o tempo, isso vai diminuir. Na Ambev por exemplo, estou no conselho há 21 anos. No começo, era muito agitado, gritaria e discussão. Hoje é tranquilo. Quando a empresa alcança um ritmo de voo, o conselho tem pouco a dizer, a empresa está pacificada. Aqui ainda há solavancos.
Quando o Mateus Bandeira entrou na empresa, se comentava que a Falconi não cuidava da própria gestão e que precisou trazer alguém de fora para comandá-la. O que mudou desde então?
Tudo que aprendi na vida é que você extrai coisas boas de tudo. No momento, ainda estamos fazendo ajustes internos. Acabamos de comprar um sistema de gestão empresarial. Concluímos que nosso sistema de avaliação e desempenho não estava bom e revimos isso.
A consultoria está mais preparada para sua sucessão?
Com o sistema de avaliação, estamos montando um sistema para filtrar lideranças. As pessoas que vão subir são as que demonstraram capacidade de liderança. Isso tudo numericamente, com meritocracia.
Por que houve esse problema com avaliação? Não é justamente a expertise de vocês?
Na verdade, não oferecemos esse serviço. Esse é um serviço que as consultorias de recursos humanos oferecem.
Vocês não ensinam as empresas a colocar e atingir metas?
Nossa expertise é meta e gestão, que são um dos pontos de avaliação.
A internacionalização da consultoria também era parte dos planos de 2012. Ela está na velocidade adequada?
Temos aprendido muito com isso. De tudo que tentamos aí, restou um movimento muito forte no México, na Europa e no Canadá. Fizemos uma primeira tentativa na Ásia há um ano. Não deu certo. Mas a atuação internacional vai bem. Hoje, 25% de nosso faturamento está lá e temos umas 150 pessoas fora.
O nome do sr. foi cotado para concorrer ao governo de Minas Gerais. Por que não quis?
Já viu um cara mais sem jeito que eu para ser governador? Não tenho esse tipo de ambição. Sempre fui um técnico.
Mas como vê a chegada de empresários na política?
Isso tinha de ser feito. O País tem de ser renovado. O povo deu esse recado na urna.
Esses novos políticos vão enfrentar muita dificuldade dadas as diferenças entre as esferas pública e privada?
Não sei que tipo de dificuldade vão enfrentar, mas acho que é uma tentativa que os brasileiros tinham de fazer. Porque o que estava aí não dava mais, essa cultura política… Uma vez fizemos uma reunião, os conselhos da Ambev e InBev, para responder uma pergunta: quanto tempo leva para mudar a cultura de uma empresa? A conclusão foi sete anos. Imagina mudar a cultura política de um país? O que me dá um certo desespero é que, muito embora, tenhamos feito uma grande renovação, o problema tem muito de cultura: de brasileiro pedindo emprego a político e político querendo colocar um protegido em tal lugar.
A Falconi já trabalhou com governos de Estados, ajudando a melhorar gestão e em ajuste fiscal. Vários Estados estão quase quebrados hoje. O que eles precisam fazer?
Naquela época (início dos anos 2000), os Estados ainda podiam atingir equilíbrio fiscal, reduzindo desperdício e melhorando arrecadação. Hoje não dá mais. A coisa chegou num ponto de descontrole que, se não houver algumas reformas fundamentais, não tem como atingir equilíbrio fiscal. Pode entrar com as dez melhores consultorias do mundo, não vamos conseguir ajeitar essa situação. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.