O dólar à vista fechou em alta de 0,92% ontem e atingiu o maior valor do mês, cotado a R$ 3,168 na compra e R$ 3,170 na venda. O baixo volume de negócios e a pressão compradora estão relacionados com o mau humor dos principais mercados do mundo, onde predominaram as especulações em torno de um forte aperto monetário nos Estados Unidos. O risco-país brasileiro subia 3,97% no final da tarde, aos 707 pontos-base.
Esta foi a terceira alta consecutiva do dólar, que registra valorização desde que o Banco Central promoveu um leilão de contratos de “swap” cambial pela primeira vez no ano, na última quarta-feira. Com a operação, o BC renegociou 33% de uma dívida pública de US$ 983 milhões que vence na próxima quinta-feira.
Para João Medeiros, diretor da corretora Pioneer, uma das maiores de São Paulo, a rolagem da dívida pode ter sido um ??tiro no pé??. Segundo ele, ao sinalizar preocupação com a procura por ??hedge?? (proteção) cambial ou com a cotação do dólar, o BC acaba por aumentar a especulação no mercado, que agora pode testar os limites da autoridade monetária.
“Quem estava quieto agora está atento, por medo de que a procura por ??hedge?? aumente. A contrapartida são as exportações, que continuam vigorosas”, disse Medeiros.
Segundo números da Secretaria de Comércio Exterior, a balança comercial registrou superávit de US$ 693 milhões na primeira semana de junho, levando o acumulado do ano para US$ 12,55 bilhões.
As taxas de juros negociadas na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) fecharam em alta generalizada, acompanhando a aceleração do dólar e da inflação medida pelo IPC-Fipe. A inflação subiu de 0,49% para 0,77% na primeira quadrissemana de junho, ficando acima das projeções (0,60%). Para completar, a Petrobras anunciou que vai reajustar os preços da gasolina, que deverá ficar em média 4,5% mais cara no varejo. Esse é outro fator de pressão inflacionária, que atinge toda a cadeia de preços.
A inflação mais alta e o aumento da gasolina saíram na véspera do início da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que acontece amanhã e na quarta-feira. Com os índices se acelerando, o mercado aumentou mais uma vez sua projeção para a inflação deste e do próximo ano. Segundo o boletim “Focus”, os bancos esperam que a inflação do IPCA fique em 6,61% neste ano, contra previsão anterior de 6,59%. Quanto à taxa Selic, as apostas são de manutenção da taxa nos atuais 16% ao ano.
O Depósito Financeiro (DI) de julho, que leva em conta as variações do CDI e as apostas para os juros básicos da economia, fechou com taxa de 15,79% ao ano, contra 15,76% do fechamento de sexta-feira. O DI de outubro teve a taxa elevada de 16,36% para 16,49%. O vencimento de janeiro terminou o dia com taxa de 17,41% anuais, contra os 17,24% anteriores.
Bovespa recuou 1,75%
O índice da Bolsa de Valores de São Paulo carimbou ontem sua quarta queda consecutiva. O Ibovespa teve perda de 1,75% e fechou com 19.487 pontos e giro financeiro de R$ 847,375 milhões. Segundo analistas, predominou ontem no mercado acionário paulista a preocupação com a trajetória dos juros dos Estados Unidos e também da China, em razão de dados econômicos dos dois países.
O governo chinês divulgou, na última sexta-feira (11), que os preços ao consumidor no país subiram 4,4% em maio em relação ao mesmo mês de 2003, maior alta em sete anos, apesar das medidas tomadas para combater a inflação.
Nos EUA, era esperada ontem a divulgação do PPI (que mede os preços ao produtor), que foi adiada sem previsão. Hoje, o governo norte-americano divulga o índice de preços ao consumidor.
O aumento dos juros nos EUA e na China preocupa os investidores domésticos, pois pode frear os fluxo de investimentos e aplicações para países emergentes como o Brasil.
Os atentados suicidas com carro-bomba em Bagdá (capital do Iraque) no domingo e na manhã de ontem também geram preocupação, pois deixam evidente o descontrole da situação. Diversas pessoas morreram, entre elas cinco estrangeiros – dois britânicos, um francês, um americano e um filipino.
Quadro doméstico
Internamente, pesou ontem o avanço da inflação de São Paulo medida pelo IPC (Índice de Preços ao Consumidor), da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, da USP). O indicador apontou taxa de 0,77% na primeira quadrissemana de junho, maior desde a segunda quadrissemana de outubro (+0,78%).
Diante do cenário interno e externo, a avaliação dos analistas de mercado é que não há espaço para o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central reduzir o juro básico que está em 16% ao ano.