A despeito de projeções extremamente tímidas para o crédito e anos seguidos de desaceleração no crescimento do mercado de cartões, a MasterCard Brasil, bandeira internacional, espera que a realidade desta indústria seja um pouco menos pessimista em 2015. A esperança do presidente da marca no País, João Pedro Paro, é de que a curva de expansão do segmento ao menos se estabilize e altere o quadro visto há três anos.
“Desde 2012, tem sido assim. A curva de crescimento do setor de cartões inicia mais forte no começo do ano e depois baixa o ritmo. Torcemos para que a curva pare de ser assim, mas, ela depende do desempenho do comércio, que tem desacelerado”, afirma o executivo, em entrevista exclusiva ao Broadcast.
O cenário hoje é bem diferente do visto no passado. O setor de cartões no Brasil estava acostumado a crescer acima dos 20%. A realidade hoje é outra. Mas, mesmo em desaceleração, o forte investimento que os grandes bancos fazem em busca de margens atrativas tem garantido ao mercado de cartões taxas de expansão que não têm sido vistas em muitos segmentos. A Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs) estima alta de 12% a 13% neste ano que, se concretizada, proporcionará à indústria ultrapassar seu primeiro R$ 1 trilhão. No ano passado, o crescimento foi de 14,8% já abaixo dos 17,8% vistos em 2013.
Para o presidente da Mastercard, a expectativa de expansão para o setor de cartões em 2015 é “bastante forte” considerando mais um ano de Produto Interno Bruto (PIB) zero. Essa semana, Joaquim Levy, ministro da Fazenda, admitiu, pela primeira vez, que no exercício passado o Brasil já pode não ter crescido.
O desempenho do setor de cartões tem por trás, conforme Paro, a substituição do dinheiro pelo plástico que cresce tanto na quantidade de estabelecimentos que passam a aceitar cartões bem como no número de pessoas que os utilizam para pagar suas compras. Essa é justamente uma estatística que o mercado deve aperfeiçoar em breve. Estimam-se em mais de três milhões a quantidade de lojistas que aderiram aos meios de pagamentos eletrônicos. No entanto, não se sabe, por exemplo, qual o número exato de locais que aceitam cartões, segundo Paro. Nessa estatística, conforme ele, a Abecs vai separar a quantidade de empresas aderentes ao sistema do número de unidades das redes dessas companhias.
Diversificação de receitas
Do lado da MasterCard, a aposta, de acordo com Paro, está na diversificação de receitas, com braços de tecnologia, consultoria e serviços. Essas áreas não substituem nem compensam uma desaceleração da alta do setor de cartões no Brasil, conforme ele, mas complementam a estratégia da companhia. “Fazem parte do conjunto. Somos uma empresa de tecnologia, não mais só de cartões”, diz ele.
Em relação à maior concorrência com outras bandeiras e novos meios de pagamentos, o executivo acredita que fazem parte do jogo, mas lembra que é preciso “muita escala” para atuar no segmento. “Nosso maior competidor ainda é o dinheiro. O resto é detalhe. Novos concorrentes e produtos fazem parte do jogo. Temos de fazer com que os clientes escolham a bandeira MasterCard. É uma corrida que não é fácil”, destaca Paro.
O indicador que mede a utilização de meios de pagamentos eletrônicos no consumo das famílias no Brasil dobrou para mais de 30% no Brasil nos últimos anos. A expectativa da indústria, segundo Paro, é que chegue nos 32% em 2015. “É bastante coisa”, observa, lembrando que 85% das transações no mundo são feitas em dinheiro e somente 15% por meio de pagamentos eletrônicos.
O Brasil é a segunda operação da MasterCard no mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos e a frente da Inglaterra. Números, porém, são guardados sob sigilo uma vez que a empresa tem capital aberto na Bolsa de Valores de Nova Iorque (Nyse) e não detalha informações por países. No ano passado, a companhia teve lucro líquido global de US$ 3,6 bilhões, aumento de 14% ante 2013. A quantidade de cartões ultrapassou os 2 milhões no mundo e as transações processadas somaram cerca de 11,6 milhões, mais do que todo o mercado brasileiro que totalizou 10,4 milhões em 2014, segundo a Abecs.