A Ferropar, empresa responsável pela operacionalização e manutenção da Ferroeste – ferrovia entre Guarapuava e Cascavel – realiza uma manutenção deficiente nos 248 quilômetros do trecho. A constatação é do diretor-técnico da Ferroeste, Leopoldo Campos.

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Em inspeção técnica-operacional, realizada entre 27 e 28 de julho, o engenheiro observou diversos problemas de conservação ao longo da ferrovia, além de máquinas abandonadas no terminal de Guarapuava e da continuação dos problemas ambientais no terminal de cargas de Cascavel, que já chegaram a interditar o local em abril deste ano.

Na vistoria, foram verificados vários pontos onde a vegetação cresce desordenadamente ao longo da ferrovia, dificultando a visão do maquinista e colocando em risco a viagem.

Também foram diagnosticados locais com acúmulos de pedras e de sedimentos durante o percurso. Segundo Campos, as pedras que se encontram próximas aos trilhos criam situações de perigo às viagens e devem ser retiradas imediatamente para evitar acidentes e até descarrilamento de trens.

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O diretor pôde observar ainda um número insuficiente de funcionários nos serviços rotineiros de conservação da ferrovia. A empresa deveria ter pelo menos 25 homens trabalhando exclusivamente na manutenção diária do trecho. ?Hoje, a Ferropar mantém somente 18 funcionários para as tarefas. É um quantitativo insuficiente para uma manutenção adequada e responsável da linha?, completa.

Medidas

Segundo o diretor administrativo, financeiro e jurídico da Ferroeste, Samuel Gomes, as constatações feitas por Leopoldo Campos são aspectos que reforçam e exigem a retomada imediata do controle da ferrovia pela Ferroeste para evitar a acelerada deterioração física da linha.

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Samuel lembra que os levantamentos feitos pela Ferroeste são parecidos com os resultados da inspeção técnico-operacional realizada pela ANTT, em abril deste ano. A Agência reguladora concluiu em seu relatório que a má conservação da via permanente é grave e coloca em risco a continuidade do serviço e a segurança do tráfego, com risco de prejuízos os usuários e seus clientes, para a segurança de pessoas, para a vida e para o meio ambiente.

Abandono

Equipamentos considerados fundamentais para a manutenção correta de uma ferrovia estão abandonados e se deteriorando ao ar livre no pátio da Ferropar de Guarapuava.

Segundo Campos, a Ferropar já foi multada pela ANTT em cerca de R$ 2,4 milhões pelo abandono dessas máquinas e, mesmo assim, a situação até o presente momento continua-se inalterada.

A Ferroeste foi construída entre 1991 e 1994, durante a primeira gestão do governador Roberto Requião e contou com mão-de-obra de dois batalhões do Exército Brasileiro. A obra custou, na época, cerca de US$ 363 milhões o equivalente a R$ 1 bilhão em valores atuais e foi paga exclusivamente com recursos paranaenses. A Ferroeste foi a última e mais barata ferrovia já construída no País.

Em 1996, a ferrovia foi leiloada pelo governo Jaime Lerner. O único interessado no negócio foi consórcio formado pela Gemon Geral de Engenharia e Montagens, FAO Empreendimentos e Participações Ltda. e Pound S/A. Em 98, a América Latina Logística (ALL) entrou na sociedade.

Na época, o grupo ofereceu R$ 25,6 milhões pela ferrovia, o preço mínimo do leilão, e pagou R$ 1,2 milhão (5% do lance) à vista. A Ferropar ganhou três anos de carência para começar a quitar a dívida, que foi dividida em 108 parcelas trimestrais de pouco mais de R$ 1 milhão. O contrato tem validade por 30 anos.

A primeira venceria no dia 15 de janeiro de 2000 e as demais nos dias 15 de abril, de julho e outubro de cada ano, até 2026. Mas, em 31 de março de 2000, o consórcio avisou que não honraria o compromisso.

Atualmente a Ferropar não paga um centavo sequer pelo uso da ferrovia, resultando em uma dívida com o Estado de cerca de R$ 24 milhões.