Na véspera da reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) – que começa hoje -, o economista Guido Mantega defendeu o fim da escalada da taxa básica de juros (taxa Selic), que já dura nove meses. Mantega, presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), negou-se a fazer previsões sobre o resultado da reunião. Porém, insistiu que, pela ótica do controle da inflação, pode-se imaginar que a taxa de juros tende a parar de subir. Voltando, como Mantega espera, a estimular os investimentos.
?Se se confirmar isto (no Copom), vai dar uma sinalização positiva para os investimentos. O investidor vai perceber que a luta contra a inflação está ganha, e que, portanto, poderá prever uma política monetária mais branda, de modo a estimular os investimentos.?
Mantega acredita que, assim, o segundo semestre vai ser muito favorável para a economia brasileira. Enquanto os primeiros seis meses do ano estão apresentando um crescimento mais moderado, o segundo deverá mostrar crescimento mais acelerado, avaliou. Isso permitirá conseguir uma performance favorável do Produto Interno Bruto para 2005, entre 3% a 4%, mesmo depois da revisão do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, que projetou PIB de 2,9% este ano.
Mantega espera o PIB semestral, do 2.º semestre, deve ser muito bom. O PIB do primeiro trimestre foi muito baixo, da ordem de 0,3%, mas ele acredita que nos dois últimos trimestres do ano ele será bem maior, levando para um resultado favorável. Segundo ele, todas as condições para isso já estão dadas: inflação sob controle, bom desempenho das contas externas, fundamentos da economia sólidos. ?E com tudo isso voltará a animação do empresariado que pode ter ficado um pouco comprometida pela política monetária.?
Na análise do presidente do BNDES, o setor exportador continuará a puxar o crescimento econômico brasileiro no segundo semestre, além do setor automobilístico. No âmbito do BNDES, os setores que deverão alavancar os desembolsos são mecânica, metalurgia, material de transporte, papel e celulose, bem como siderurgia e telecomunicações.
Desembolsos
A indústria e o setor de infra-estrutura foram os principais beneficiados pelo incremento de desembolsos do BNDES no acumulado do ano. Os recursos liberados para o primeiro somaram R$ 7,4 bilhões de janeiro a maio, um salto de 23% sobre os cinco meses de 2004. Já as verbas para a infra-estrutura totalizaram R$ 5,1 bilhões, número 15% maior do que o registrado em 2004.
As micro, pequenas e médias empresas receberam R$ 4,7 bilhões no período de janeiro a maio, o que representa um acréscimo de 8% sobre as verbas liberadas no mesmo período do ano passado.
O BNDES também aumentou o volume de projetos enquadrados, que é o primeiro nível de análise dos pedidos que chegam ao banco. Nos primeiros cinco meses, foram R$ 34,4 bilhões, o que significa 40% a mais sobre os R$ 24,5 bilhões acumulados entre janeiro e maio de 2004.
Mercado aposta que Copom vai manter a Selic
Brasília (AE) – O mercado financeiro manteve a aposta de que o Comitê de Política Monetária (Copom) manterá os juros estáveis em 19,75% na reunião que começa hoje e termina amanhã. A perspectiva de estabilidade contida em pesquisa semanal do Banco Central (BC) não foi alterada nem mesmo pelo acirramento da crise política deflagrada pelas denúncias de corrupção feitas pelo presidente do PTB, Roberto Jefferson. Os participantes do levantamento acreditam que haverá espaço para queda dos juros a partir de setembro, quando a taxa iniciaria uma trajetória de redução gradual até atingir 16,50% em maio de 2006.
O otimismo moderado do mercado veio baseado numa melhora do cenário para a inflação neste ano. As previsões do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2005 dos analistas participantes da pesquisa do BC recuaram de 6,32% para 6,21% e passaram a acumular uma redução de 0,18 ponto porcentual em quatro semanas. O porcentual, entretanto, ainda se encontra acima do objetivo de 5,1% perseguido pelo Copom neste ano – que, na visão dos analistas de mercado, não será atingido. Eles ressaltam, no entanto, que o BC vem conseguindo reduzir as projeções a um patamar compatível com o cumprimento da meta de inflação de 2006 (4,5% mais um intervalo de 2 pontos porcentuais para cima ou para baixo).
A redução das previsões de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para este ano de 3,27% para 3,12% foi outro fator que contribuiu para a consolidação da perspectiva de juros estáveis na reunião do Copom. Com a atividade em queda, o mercado avalia que as pressões do aumento de consumo sobre os índices de preços sejam reduzidas. A diminuição das projeções de crescimento do PIB captada pela pesquisa do BC foi a segunda consecutiva a ocorrer após a divulgação do crescimento de 0,3% no primeiro trimestre do ano. Para 2006, as estimativas de expansão do PIB ficaram estáveis em 3,50%.
Outra boa notícia no campo da inflação foi a redução das previsões de reajuste dos preços administrados neste ano de 7,80% para 7,60%. Apesar da queda, o porcentual ainda é superior aos 7,30% usados pelo Copom na reunião de maio. As previsões de aumento dos administrados em 2006 não se alteraram e prosseguiram em 6%. Na reunião de maio, o Copom trabalhava com a hipótese de aumento de apenas 5,1% dos administrados no próximo ano.
Apesar das diferenças, a redução das estimativas foi um sinal animador até mesmo pelo fato de ter ocorrido numa semana em que se falou na possibilidade de racionamento do gás em função da crise política vivida pela Bolívia.