“O Brasil já estaria de quatro em outras circunstâncias” de uma crise internacional como a atual, na avaliação do ministro da Fazenda, Guido Mantega. Segundo ele, no entanto, o mercado brasileiro continua forte e, temporariamente, deve substituir o mercado externo pelo interno. “Não é que isso seja bom, mas é conjuntural”, explicou o ministro, durante palestra no 5º Fórum de Economia realizado pela Escola de Economia de São Paulo e a Fundação Getúlio Vargas (FGV). De acordo com o ministro, o Brasil tem hoje melhores fundamentos fiscais e monetários e a inflação deve terminar o ano dentro do intervalo de tolerância da meta de 4,5% (com teto de 6,5%). “Talvez, sejamos o único País a realizar essa proeza”, considerou.

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De acordo com o ministro, não é possível afirmar, com certeza, a extensão da atual crise, mas ele acredita que a situação no mercado hoje será de nervosismo, em função de problemas com os bancos de investimentos Lehman Brothers e Merrill Lynch. “Possivelmente, isso vai piorar a situação”, previu.

Mantega salientou ainda que a desaceleração da economia mundial é certa neste ano e em 2009. E que esse movimento, certamente, levará a uma redução do uso das matérias-primas (commodities). “Não sabemos dizer de quanto”, disse, lembrando ainda que o problema da alta dos preços dessas matérias-primas já foi dissipado, mas que a bolsa brasileira ainda sofre porque as principais empresas negociadas no mercado brasileiro têm as commodities como negócio.

Um dos motivos da queda da bolsa local é que algumas companhias e fundos de pensão estrangeiros precisam “fechar buracos” de suas matrizes. “Há fuga também para segurança, mas talvez os Treasuries (títulos do governo norte-americano) não sejam mais tão seguros quanto eram”, disse. “Ninguém vai pensar, no entanto que os EUA vão quebrar. Os Treasuries só não estão mais tão fortes”, acrescentou.

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Investimentos

Segundo Mantega, a despeito do cenário de crise internacional, a pior das últimas décadas, o governo aposta na continuação dos investimentos. Ele salientou que o custo de capital encareceu, que os empréstimos estão mais rarefeitos e que a captação de recursos no mercado acionário se retraiu.

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Além deste quadro, Mantega destacou que o governo tomou algumas medidas, como o aumento da alíquota do IOF e a criação do compulsório sobre leasing para desacelerar a economia e impedir a disseminação da inflação. Ele lembrou que a balança comercial já perdeu saldo e por isso o balanço de pagamentos tem menos folga do que antes. “Tudo isso mexe com o real, mas temos reservas internacionais (de aproximadamente US$ 200 bilhões), que são uma garantia.”

Lucratividade

A alta margem de lucratividade das companhias brasileiras é fundamental para novos investimentos no País, na opinião no ministro da Fazenda, Guido Mantega. “Saímos da fase do investimento defensivo, de trocar uma máquina por outra para criar novas plantas”, disse. Ele ressaltou que, em 12 meses, a Formação Bruta de Capital Fixo cresceu 15,5%, quase três vezes a taxa de expansão do PIB. “Sentimos forte ânimo dos empresários para fazer investimentos. Também, pudera, a taxa de lucro é alta”, considerou, explicando que de 2003 até hoje, o rendimento sobre o patrimônio das 500 maiores empresas nacionais foi de 13% em média, e que em idêntico período até 2002, essa taxa era de 6%.

Mantega lembrou que, no ano passado, o crédito cresceu 32,7%, saltando de R$ 817 bilhões em 2007 para R$ 1,085 trilhão. “Já disse outras vezes que esse crescimento é maior do que aquele que eu gostaria que fosse. “Poderia acelerar menos”, disse. Ele enfatizou que o crédito livre subiu de R$ 572,6 bilhões no ano passado para R$ 778,1 bilhões, uma expansão de 35,9%.

No mesmo período de tempo, os créditos direcionados passaram de R$ 245,2 bilhões para R$ 307,6 bilhões (25,4%). “Esses créditos direcionados não usam a Selic (a taxa básica de juros da economia), são taxas muito inferiores”, comparou. Ele enfatizou que esse tipo de crédito tem sido usado em grande parte para o aumento dos investimentos, e está em um patamar favorável. “A economia não conseguiria crescer a uma taxa mais forte (se os investidores usassem) uma taxa básica de 13%, mas há taxas diferenciadas na economia”, reconheceu.

Construção civil

O ministro da Fazenda afirmou que já existe um boom no setor da construção civil brasileira. De acordo com dados do IBGE divulgados na semana passada, o segmento cresceu 9,9% no segundo trimestre deste ano na comparação com idêntico período de 2007. “Nos últimos cinco anos financiamos mais habitações do que no governo Figueiredo”, comparou. De acordo com ele, o avanço na construção civil é importante porque o setor cria empregos e não necessita de produtos importados para crescer.

Mantega informou que estão entrando em operação no País nove novas fábricas de cimento, o que mostra um engajamento da construção, que esteve estagnada, segundo ele, nos últimos 15 anos. “A construção civil deslanchou nos últimos dois anos e vai embora”, previu.

Outros setores

Durante a palestra, o ministro apresentou outros dados do IBGE, todos relativos ao segundo trimestre de 2008 ante os três meses idênticos de 2007. A agropecuária por exemplo, apresentou expansão de 7,1% no período. A indústria, subiu 5,7% e os serviços cresceram 5,5%. Especificamente, ele citou o crescimento das instituições financeiras, de 12,7%.

Ele salientou que o segmento de veículos é outro pólo de crescimento do País, com o Brasil sendo a sexta maior indústria desse setor no mundo. “Qualquer setor analisado terá investimentos importantes: siderurgia, papel e celulose etc. O crescimento tem sido difuso e de qualidade com inovação tecnológica”, analisou. Ele disse ainda que o Brasil começa a ser líder mundial em outros setores, como a celulose.