O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou nesta terça-feira que o Banco Central (BC) poderá liberar mais depósitos compulsórios se for necessário para enfrentar os efeitos da crise externa sobre o Brasil. Segundo o ministro, o País está preparado para enfrentar um agravamento dessa crise, “até mais preparado do que estava em 2008, quando tivemos pleno sucesso”. O ministro participa de audiência pública em Comissão Mista no Senado sobre a medida provisória 567, que trata das mudanças na caderneta de poupança.
De acordo com Mantega, o Brasil tem quase o dobro das reservas verificadas em 2008, “mais de US$ 370 bilhões”. Além disso, a situação fiscal é mais sólida, a dívida diminuiu e há instrumentos para eventuais intervenções. “Mais recursos ou crédito estão disponíveis e já aprendemos com o que fizemos no passado. Temos um volume alto de compulsórios, que o BC poderá liberar”, afirmou.
Ele afirmou que a situação da economia internacional está se agravando nos últimos meses e que isso mostra que a estratégia de austeridade fiscal dos países europeus não está dando certo. “Essa estratégia não veio acompanhada de medidas de estímulo. O resultado é derrubar as economias e levá-las a baixo crescimento ou até a recessão”, disse. Segundo o ministro, os países que mais sofrem são os da periferia europeia.
O ministro disse ainda que, se houver saída não administrada da Zona do Euro de alguns países, “poderemos ter graves problemas, principalmente no setor bancário da região, que carrega as dívidas de vários países, como Grécia, Irlanda, Portugal e Espanha”.
Para o ministro, estamos de novo na iminência de problemas no setor financeiro que afetam o mundo como um todo. No caso dos países emergentes, segundo Mantega, levando em conta que “os EUA também não estão indo bem”, isso acaba afetando, principalmente, o comércio exterior. Com o encolhimento desses mercados, os emergentes começam a sentir uma redução.
“Se instaura certa intranquilidade e preocupação, que acaba se transformando em uma aversão ao risco, que algo mais grave possa acontecer, alguns bancos possam quebrar. Isso que chamamos de fuga de capital e que se dá em todos os países de modo geral”, explicou.
Perspectivas
Mantega afirmou que, ao contrário da maioria das grandes economia do mundo, o Brasil conseguirá crescer mais em 2012 do que em 2011. Segundo ele, mesmo os países dinâmicos, como a Índia e a China, terão menor expansão esse ano do que verificada no ano passado.
“Predomina o baixo crescimento. A China terá crescimento de 7% este ano”, afirmou o ministro. “Podemos ver que é um dos piores momentos da economia mundial, mas, felizmente, o Brasil figura entre os países que tem a possibilidade de um crescimento maior em 2012”, completou.
Mantega admitiu, no entanto, que a economia brasileira recuou mais do que outras no ano passado. “É verdade que já tínhamos desacelerado mais em 2011, mas temos condições de crescer mais em 2012”, avaliou.
O ministro citou ainda um estudo do Fundo Monetário Internacional (FMI) que mostra que o impacto do agravamento da crise financeira internacional no PIB dos países da América Latina e da África Subsaariana será negativo em apenas 1 ponto porcentual. “O importante é que Brasil e esses países continuarão crescendo”, comentou.
Para Europa, Norte da África e Oriente Médio esse impacto seria de até 3 pontos porcentuais neste ano, enquanto outro grupo de países formado por Estados Unidos, Austrália, Rússia e Canadá teria um impacto de 2pp.
Desafios
Mantega avaliou não ser fácil o desafio de acelerar o crescimento do Brasil em um cenário internacional adverso. “Não é algo fácil, não é trivial”, admitiu. Segundo o ministro, a solução para esse desafio passa pela dinamização dos investimentos, manutenção de um mercado interno forte, garantia de solidez fiscal e controle da inflação. Ele também citou a necessidade de se manter o câmbio favorável, ampliar o crédito e reduzir as taxas de juros.
Mantega enumerou ainda a continuação da reforma tributária por meio de desonerações, reduzindo também os custos de energia, logística e infraestrutura. “Esses desafios são permanentes e independem da crise. Temos de, permanentemente, buscar redução dos custos tributário, financeiro e de infraestrutura. Em momentos de crise, esse desafio se torna ainda mais importante para o País se tornar mais competitivo.”