O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que a crise financeira norte-americana poderá ficar um pouco pior do que o previsto, a partir dos fatos novos surgidos nesta segunda-feira, sobretudo com o pedido de concordata do quarto maior banco de investimentos dos Estados Unidos, o Lehman Brothers.
“Estamos numa crise bastante séria, a maior depois da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), que deve reduzir o crescimento dos Estados Unidos, Europa e Japão. Isso deve gerar algumas conseqüências, como encarecimento do crédito devido ao menor volume de recursos destinados pelas instituições financeiras internacionais a esta finalidade. A redução do nível de atividade mundial pode até provocar uma deflação (nas principais economias do planeta). As economias avançadas são o epicentro de um terremoto financeiro”, avaliou.
Mantega ressaltou, que a seriedade da crise, que já ocorre desde agosto do ano passado, não permite fazer prognóstico sobre em quanto tempo acabará. “A questão é saber até que ponto essa crise vai gerar uma retração do crescimento da economia mundial e até que ponto isso vai gerar conseqüências para o Brasil e outros países emergentes. Contudo, acredito que o Brasil deve crescer entre 5% e 5,5% neste ano, e próximo de 4,5% em 2009”, declarou, durante o 5º Fórum de Economia, promovido pela Escola de Economia de São Paulo, da Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo.
Mantega, manifestou tranqüilidade com o quadro econômico e financeiro do Brasil, apesar de reconhecer que houve uma piora da crise financeira nos Estados Unidos. “Não devemos nos precipitar. Estou tranqüilo, seguro de que poderemos enfrentar uma crise de mais longa duração e mais profunda do que imaginávamos.
Hoje, o Brasil é um outro País, bem mais desenvolvido que no passado, com fundamentos macroeconômicos mais sólidos, com US$ 200 bilhões de reservas cambiais. Não devemos nos impressionar com um ou dois dias (de tensão no mercado). O problema é lá, e não aqui. Não devemos tomar nenhuma medida precipitada porque a situação no Brasil está sob controle”, avaliou.
Desafios
Além da continuidade do crescimento, um dos maiores desafios do Brasil hoje é o de controlar as despesas do governo, na avaliação de Mantega. “Estou empenhado nisso (em controlar as despesas), principalmente com o custeio, e já há uma lei sobre isso tramitando no Congresso”, afirmou.
Para ele, o fato de o Brasil estar passando por um momento de crise de uma forma positiva será visto no futuro como um fato inédito. “No geral, o Brasil sucumbiu a todas as outras crises, pois o País era mais vulnerável, disse, citando a crise de 29, a crise do petróleo na década de 70 e as crises internacionais da década de 90.
“Ouso dizer que o crescimento será sustentando”, afirmou, ressaltando que a população está satisfeita com o governo que tem, que os empresários estão otimistas, e que há confiança em relação ao presente e ao futuro. “As riquezas petrolíferas são inequívocas e nos tornarão grandes exportadores de petróleo. Antes disso, porém, é preciso muito investimento. Essa é mais uma razão para manter o crescimento”, disse.
Outro desafio do governo, segundo Mantega, é atingir o superávit nominal até 2010. “Isso não parecia exeqüível, mas é exeqüível conseguir um superávit nominal até 2010”, garantiu, acrescentando que, a partir daí, o Brasil será mais robusto. Ele afirmou que essa meta será atingida sem que haja necessidade de sacrificar o crescimento.
O forte ritmo do crescimento do consumo das famílias é indesejável para o ministro da Fazenda. Dados do IBGE mostram o que crescimento no quarto trimestre do ano passado foi de 8,6%, taxa considerada “acelerada demais” pelo ministro. No primeiro semestre deste ano, o crescimento foi de 6,6% nos primeiros três meses, e de 6,7% de maio a junho. “Ainda está um pouco alto. Gostaria que fosse menor para que se traduzisse em menos importação”, afirmou.