Uma semana após ter desautorizado o posicionamento de Paulo Nogueira Batista, representante brasileiro no Fundo Monetário Internacional (FMI), sobre a Grécia, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, voltou a falar sobre o tema e fez algumas críticas ao programa de resgate ao país europeu. Em entrevista ao jornal britânico Financial Times, Mantega criticou a contrapartida fiscal imposta aos gregos pelo programa de resgate financeiro. “Acho que esses programas de ajuste fiscal criados pela Europa são, em geral, excessivos”, disse.

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Em uma reportagem com chamada na primeira página do jornal e com título “Brasil busca revisar programas de ajuda do FMI para o sul da zona do euro”, o jornal afirma que o Brasil volta a falar sobre o tema com o objetivo de tentar tornar os programas de ajuda aos países da periferia da Europa “mais economicamente sustentáveis”.

A entrevista de Mantega reforça o posicionamento do governo brasileiro já divulgado em uma nota na noite de quarta-feira, 7, pelo Ministério da Fazenda. No documento, o Brasil defende que “os programas de resgate à Grécia e outros países da periferia da área do euro precisam ser revistos e aperfeiçoados de modo a dar melhores condições de recuperação a esses países”. Em outras palavras, o Brasil volta a criticar o plano que receita mais rigor fiscal para que economias em crise.

Segundo o FT, a decisão de Batista de se abster da votação sobre o reforço da ajuda à Grécia pode ser entendida como “um sinal da ansiedade crescente das economias em desenvolvimento a respeito do aumento do apoio do FMI para as economias ricas da Europa”. “No entanto, sua posição foi prejudicada quando o Brasil tentou se distanciar dessa decisão e Mantega anunciou que essa abstenção não havia sido autorizada”, diz o jornal. “Ontem, Mantega disse que a votação foi resultado de uma ‘falta de comunicação’ e o Brasil permanece comprometido com o resgate grego”, completa a reportagem.

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O FT diz ainda que a decisão de Paulo Nogueira Batista de se abster da votação na semana passada gerou “escândalo” e um “debate latente dentro e fora do FMI”. Para o FT, há dúvidas se a decisão do representante brasileiro foi apenas uma ação individual de um representante de país ou sinaliza a divisão crescente entre países desenvolvidos e emergentes nos temas sobre a crise europeia.

“Creio que há uma grande insatisfação com o programa grego em todas as partes, exceto na Europa”, disse o professor da Universidade de Columbia e ex-candidato à presidência do Banco Mundial, José Antonio Ocampo. “Talvez não tenha sido politicamente bom, mas Batista disse a verdade”, afirmou ao FT. (- fernando.nakagawa@estadao.com)

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