O economista Mansueto Almeida afirmou nesta quarta-feira, 7, que o Brasil “acalmaria as agências de classificação de risco” se pelo menos sinalizasse uma mudança de trajetória, mesmo que não conseguisse resultados de melhoria fiscal de forma imediata. “O problema hoje é que o governo não está entregando o que prometeu no curto prazo, e o longo prazo está piorando porque a gente está colocando na lei uma série de vinculações que vão aumentar gasto (independente do que ocorrer)”, disse no 5º Fórum Fecomércio de Economia, na capital gaúcha.
Ele citou, por exemplo, o fato de o Plano Nacional de Educação (PNE) prever que os gastos na área deverão aumentar para 10% do Produto Interno Bruto (PIB) até 2022. “As agências de risco olham muito a trajetória de dívida. Se a gente sinalizar uma melhora no gasto público nos próximos 5 a 10 anos, poderíamos até manter o grau (de investimento)”, avaliou.
Segundo ele, hoje a margem que o governo tem para elevar gastos em áreas como educação e saúde cortando outras despesas é muito pequena, devido às obrigatoriedades existentes. “No curto prazo, todo mundo fala que dá para reduzir gasto. Não vamos nos enganar”, falou.
Nesse contexto, de acordo com o economista, é inevitável que haja elevação de impostos. Ele explica que, mesmo que a CPMF for recriada, ela poderá “resolver o problema” de dois anos, não de três ou quatro anos, levando em conta o tamanho do esforço fiscal que terá que ser feito. A saída, para Mansueto, é acelerar a discussão em torno de reformas, como a da Previdência. “Ou teremos ainda mais aumento de carga tributária”, disse. “A sociedade brasileira terá que se conscientizar de que o Brasil precisa mudar regras.”
Para o economista, o cenário será bastante desafiador nos próximos meses, dado que a situação econômica vai piorar no curto prazo e o governo terá muita dificuldade para contornar a crise política. “Para criar um consenso político, o governo federal precisará de uma habilidade muito grande, como não teve até agora”, disse.
Em sua apresentação, ele defendeu a necessidade de acelerar o debate em torno de reformas estruturais, que poderiam ir além do ajuste fiscal proposto pela equipe econômica da presidente Dilma Rousseff. No entanto, disse que hoje não há ambiente para isso. Mansueto, que é ligado ao PSDB, citou como exemplo o fato de o governo não conseguir articular os deputados nesta quarta-feira e, como consequência, o Congresso ter que adiar a votação dos vetos presidenciais pelo segundo dia consecutivo, devido à falta de quórum.
“Isso mostra que a base política do governo está desorganizada e, num contexto desses, com um debate político muito acirrado, é difícil aprovar reformas”, ponderou. Ele afirmou ainda que a própria deterioração das condições econômicas – com o aumento do desemprego, a inflação pressionada e a queda da renda real – poderá levar a uma mudança no quadro. “Com esta piora, pode ser que se crie um ambiente pró-reforma daqui a dois ou três meses. Mas não é garantido. A votação dos vetos é um exemplo disso”, falou.
Para o economista, falta habilidade política ao governo para negociar as mudanças necessárias. Sem citar a presidente Dilma, ele disse que a grande dúvida hoje, no Brasil e no exterior, é se o governo federal se manterá no poder por mais três anos, caso não consiga “administrar esta coalizão” para tornar o consenso político factível. “Essa é a grande pergunta, e eu não sei a resposta”, revelou.