Aos 65 anos de idade, Joel Malucelli, presidente do Grupo JMalucelli – um dos maiores do Paraná e responsável por 62 empresas, afirma que pretende expandir seu grupo ainda mais.
A recente venda de 49% da Seguradora JMalucelli para a americana Travellers fez com que o grupo se tornasse dono da maior seguradora da América Latina. Em virtude dessa venda, Malucelli também adianta que já está com o processo de sucessão do grupo definido, pretendendo, com isso, se aposentar em janeiro de 2012. Mesmo com o anúncio, o empresário garante que não ficará longe do escritório.
O Estado – Você já trabalhou em diversas áreas, mas como foi o processo de criação do Grupo JMalucelli?
Joel Malucelli – Comecei desde cedo com a intenção de ganhar dinheiro. Com nove anos de idade já vendia revistas usadas em Curitiba. Nesta fase da infância também trabalhei juntando bola de tênis, de boliche e, no Circo Irmãos Queirolo, vendia pipoca e refrigerante.
Sempre corri atrás até que fui trabalhar com meus pais. A família toda trabalhava numa indústria de compensados, mas senti que aquilo não era o futuro, pois não me satisfazia.
Passei então em primeiro lugar em dois concursos (Copel e Banco do Brasil). Até que surgiu a grande oportunidade da minha vida: quando um tio abençoado me ofereceu ser avalista na compra de um trator.
Aluguei a máquina por hora para uma construtora. Quando senti que o negócio era bom saí da Copel e fui emancipado pelo meu pai, pois para ser empresário era preciso ter 21 anos.
Depois de ser tratorista consegui meu primeiro contrato de obra. Tive então uma empresa de reflorestamento, uma corretora de valores, depois disso foi uma sucessão de oportunidades. Hoje somos um grupo com 62 empresas, sendo que somos majoritários em 51 delas e minoritários em 11.
OE – Qual é a previsão de investimentos para o Grupo JMalucelli?
JM – Estamos investindo muito na área de energia e construção civil pesada (hidrelétricas). Nossa construtora hoje está trabalhando em 1.430 quilômetros de linhas de transmissão, 91 torres de energia eólica.
Estamos também na obra de Mauá (Paraná), vamos construir a obra de Colider (Mato Grosso), e ajudar ainda na construção da obra de Belo Monte (Pará). Estaremos no próximo leilão em dezembro para conseguir novos contratos. Área de construção e energia são as que mais vão crescer.
OE – Como faz para administrar todas as empresas do Grupo JMalucelli simultaneamente?
JM – Tenho 53 reuniões por mês para acompanhar todos os negócios do grupo. Agora estamos trabalhando no processo de sucessão. É preciso ter uma equipe de parentes e profissionais muito competente para dar segurança. Somos unidos e bem próximos.
OE – Existe alguma empresa ou área em que o grupo ainda pretende crescer?
JM – Queremos crescer mais na comunicação. Já temos quatro rádios e duas televisões. Pretendemos crescer também no meio ambiente e na área de previdência privada, que já é, por sinal, uma empresa independente dentro do Paraná Banco.
OE – Qual é o segredo para manter uma solidez tão grande no grupo?
JM – Existe uma grande sinergia. O mais importante é que nunca quis ser muito grande. Quando a construtora começou a crescer muito eu fiz questão de diversificar. Se continuasse apenas com ela com certeza seria hoje uma das maiores do Brasil. Mas preferi diversificar para ter mais segurança.
OE – Como vê a situação do Banco PanAmericano, do Grupo Silvio Santos, que enfrenta uma fraude de R$ 2,5 bilhões?
JM – Tenho muita admiração por ele, mas pena por nessa altura da vida ter que passar por isso. Todos nós empresários devemos estar preparados. Não o considero culpado absolutamente. É uma contingência que acontece.
Eu mesmo tive duas decepções na minha carreira que pude honrar sem maiores problemas. Todos os emp,resários estão sujeitos a esses percalços. Por isso é importante ser sólido para poder arcar com essas decepções.
OE – Quais são os planos para o futuro do Grupo JMalucelli?
JM – O processo de sucessão já começou, será meu filho primogênito Alexandre Malucelli. Esperava já ter passado mais atribuições a ele dentro do grupo, mas, por imposição da seguradora americana Travallers, que comprou recentemente 49% da nossa seguradora, posterguei minha aposentadoria para dezembro de 2012. Está tudo bem equacionado.
OE – A compra de parte da seguradora projetou o Grupo JMalucelli para o exterior. Outro ramo do grupo também pode ir para o exterior?
JM – A própria Travellers veio em função disso. A nossa seguradora já é a maior da América Latina. Agora, com a Travellers, vamos criar novos produtos e atender toda a América Latina.
OE – Que orientação você passa para quem também quer crescer?
JM – Em primeiro lugar correr atrás de todas as possibilidades. Segundo, transmitir confiança e responsabilidade. A imagem de pessoa séria abre portas para o crescimento. É essencial mostrar responsabilidade.
OE – O que vai fazer após sua aposentadoria, em dezembro de 2012?
JM – Já estou me afastando das atividades. Tenho um escritório no centro de Curitiba que será utilizado também pelos funcionários que estão próximos da aposentadoria.
Cada um terá sua secretária e computador para não ter que ficar em casa. Os diretores que se aposentam ficam aqui para tocar suas vidas particulares e, consequentemente, ocupar suas cabeças.
