Mais máquinas colhem laranja nos EUA

Naples, Flórida – O homem sobe a escada, colhe a fruta, coloca num saco e coloca esse saco num caminhão. Assim as plantações de cítricos da Flórida operam tradicionalmente, há décadas. Só que o “homem” – ou a pessoa que realiza este trabalho – está desaparecendo, o que preocupa os plantadores da região, que começaram a experimentar a colheita mecânica. Em muitas plantações, máquinas coletam laranjas e toronjas (grapefruit) das árvores.

A área de colheita mecanizada do Sul da Flórida tem crescido, desde 1999, mas agora parece que vai ocupar todo o território. A escassez de mão-de-obra deixou de ser o maior temor da indústria de cítricos. Foi substituído pelos preços em baixa recorde nesta estação e pela ameaça de perder a tarifa sobre o suco de laranja brasileiro, com as negociações de comércio livre.

As máquinas começam a ser vistas como meio de sobrevivência num mercado global, onde a concorrência de outros países – o Brasil, entre eles – tem custo de trabalho e de terra bem mais baixos. Fala-se em eliminar a tarifa sobre o suco brasileiro no Acordo de Livre Comércio das Américas (Alca), que uniria 34 países no Hemisfério Ocidental e criaria o maior bloco comercial do mundo.

O Brasil já é o maior produtor de suco de laranja do mundo. Se a tarifa for eliminada, os cultivadores da Flórida podem ficar fora do jogo. A tarifa está, hoje, em cerca de US$ 0,297 por galão, custo que coloca americanos e brasileiros em condições mais similares.

“Penso que a indústria em geral reconhece que algo tem de acontecer para baixar o custo da produção”, disse Fritz Roka, um economista agrícola do Centro de Educação e Pesquisa do Sudoeste da Flórida, da Universidade da Flórida, em Immokalee.

ÁREA PEQUENA

– Uma pesquisa de Ron Muraro, professor de economia alimentar e de recursos no Centro de Educação e Pesquisa de Cítricos da Universidade da Flórida, em Lake Alfred, mostra a drástica diferença entre os custos de colheita no Brasil e na Flórida. Na estação de 2000-2001, o custo de colher frutas e acondicioná-las num reboque foi de US$ 1,60 para cada caixa de laranjas de 40 kg na Flórida. Em São Paulo, Brasil, o custo foi de US$ 0,38 para a mesma caixa de frutas.

As máquinas reduzem significativamente, os custos de colheita para os cultivadores da Flórida. As utilizadas para sacudir árvores trabalham até 10 vezes mais rápido do que um homem colhendo frutas com as mãos. Com elas, é possível colher cem caixas por hora, 40 horas por semana, constata Roka. Mas na Flórida, essas máquinas trabalharam em cerca de 16.900 acres de cítricos – menos de 4% da área total de cultivo.

A maior atividade com máquinas no Estado é a de colheita mecanizada. Mais de 12 mil acres de cítricos do Sudoeste – 70% do total – foram colhidos mecanicamente. Na região, a colheita mecânica funciona bem porque há bastante espaço entre as árvores que estão em melhor forma do que nos cultivos mais antigos do Norte. E como são plantios realizados em grandes áreas, melhora a eficiência da máquina.

PREÇOS BAIXOS

– Roka não espera que a área mecanicamente colhida na Flórida aumente muito nesta estação. Mas ele vê melhores perspectivas em várias partes do Estado, incluindo a costa leste. Will Elliott, gerente-geral da Co-Collier, em Immokalee, que desenvolve e opera equipamentos de colheita mecânica, notou maior interesse dos produtores. Alguns cultivadores querem aumentar a área mecanicamente colhida, afirmou Elliot, lembrando que com os preços baixos desta estação, é preciso economizar onde for possível.

E os preços tendem a cair – mais ainda com a projeção de safra recorde de 250 milhões de caixas. No início e no meio da estação, os cultivadores receberam entre US$ 0,50 e US$ 0,60 por libra sólida da fruta. É cerca de metade do que receberam na estação passada, disse Melanie Burns, diretora de informação de mercado da Florida Citrus Mutual, o sindicato do setor. Uma libra sólida, medida que determina quanto os cultivadores recebem, é a quantidade de açúcares e ácido numa caixa de frutas.

“É a estação mais difícil que já vi”, afirmou ela. “Não apenas os preços estão baixos, mas os custos estão altos. Os custos do combustível estão altos. Os custos do trabalho e da mão-de-obra estão altos. Assim, você é atingido duas vezes.

Chave para sobrevivência

A mecanização também tem seus custos. Para preparar os cultivos para as máquinas, para alugar ou comprar equipamento. Segundo Elliott, a preparação dos cultivos para a colheita mecânica pode custar entre US$ 60 e US$ 100 por acre. As árvores precisam ser aparadas no alto e embaixo, mas é só uma vez. Ele constata que a economia pode começar depressa.

Elliott acha que os cultivadores vêem cada vez mais o investimento na colheita mecânica como uma chave para a sobrevivência, especialmente quando se fala em reduzir ou eliminar a tarifa sobre o suco de laranja brasileiro. “Sem a tarifa, será difícil para os cultivadores competir”, disse ele. “Uma maneira de fazer isso é usar a colheita mecanizada. Ela oferece a maior oportunidade para o cultivador economizar no custo de sua colheita.” Os cultivadores podem economizar entre US$ 0,25 e US$ 0,65 por caixa com as máquinas, acrescenta.

A Barron Collier Cos., em Immokalee, que tem mais de 10 mil acres de cítricos, é um dos maiores clientes da Co-Collier. A empresa de Elliott também trabalha com vários cultivadores de cítricos na costa leste do Estado, incluindo alguns em Fort Pierce.

O interesse pela colheita mecânica data dos anos 60 e cientistas tentaram todos os tipos de sistemas, incluindo máquinas de golpe de ar e canhões de água, disse Roka.

O Departamento de Cítricos da Flórida, em Lakeland, gastou mais de US$ 9 milhões desde 1995 no desenvolvimento de máquinas de colheita mecânica, disse ele. Hoje, há dois tipos principais de máquinas que sacodem árvores operando com sucesso na Flórida. Uma delas sacode a árvore na abóbada; a outra, no tronco. Essas pesadas máquinas são projetadas para operar em cultivos maiores e não são baratas – podem custar quase US$ 1 milhão.

DESEMPREGO

– Enquanto aqueles que estão no negócio da colheita mecânica empolgam-se com as perspectivas, os defensores dos trabalhadores das fazendas temem ficar desempregados.

“A colheita mecânica vai tirar empregos”, disse Greg Asbed, líder da Coalizão dos Trabalhadores de Immokalee. “Com certeza.”

Ele disse que seria “reanimador” se a indústria dos cítricos procurasse modos de promover melhor os produtos, em vez de sempre tentar cortar os custos do trabalho. Asbed acrescentou que gostaria de ver o governo investir tanto dinheiro em pesquisas sobre como melhorar as vidas dos trabalhadores de fazendas que vivem na pobreza quanto tem gastado em colheita mecânica.

Roka, do Centro de Educação e Pesquisa do Sudoeste da Flórida disse que os trabalhadores que colhem frutas hoje não deveriam estar tão preocupados, porque ainda demora uma consolidação da colheita mecânica na Flórida. “Levará uma geração inteira para isso realmente acontecer”, disse ele.

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