Economistas e representantes do chamado setor produtivo voltaram a manifestar preocupação sobre os efeitos que a manutenção do atual nível de câmbio nominal poderá ter sobre as exportações e, principalmente, as contas externas do país no próximo ano. Luiz Carlos Bresser Pereira, ex-ministro da Fazenda, afirma que o governo erra ao manter o câmbio no patamar atual. Erro que, segundo ele, significa ratificar o retorno do déficit em transações correntes. ”O Banco Central tem mantido o câmbio entre R$ 2,90 e R$ 3, mas a desvalorização deveria ser maior”, afirma Bresser.

O ex-ministro recorre ao seguinte argumento: um nível de câmbio mais desvalorizado permitiria ao país aumentar as exportações, fazer caixa para comprar dólares (e recompor as reservas) ao mesmo tempo em que impediria (ou minimizaria) um eventual déficit nas transações correntes. Até ontem, o dólar acumulava uma desvalorização diante do real de 17,15% no ano.

”Voltaremos a ter déficit em conta corrente em 2004. Vamos zerá-lo neste ano, por conta da desvalorização do real ocorrida no ano passado, mas esse efeito já foi anulado”, afirmou o professor, em seminário sobre perspectivas macroeconômicas na FGV-SP.

A conta de transações correntes representa a soma dos resultados da balança comercial (exportações menos importações), da balança de serviços (pagamento de juros, turismo internacional e remessas de lucros, entre outros) e das transferências unilaterais (dinheiro enviado ao Brasil por residentes no exterior e vice-versa). O problema é que nos últimos anos, para fechar essa conta, o país precisou contar com fluxo de investimento estrangeiro ou recursos de instituições multilaterais.

O professor da FGV afirma que, a despeito do ajuste fiscal e do resultado das exportações esse ano (o superávit na balança comercial chega a US$ 23,3 bilhões), um dos principais indicadores de fragilidade externa permanece inalterado: o da relação dívida/exportações. ”Esse coeficiente para o Brasil está em 3,5 vezes, quando o ideal seria algo em torno de 1,5.”

A Sobeet (Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica) diz que o Brasil teria condições de entrar a partir de 2005 em um ciclo de crescimento sustentável. Mas desde que cumpra uma pré-condição: desvalorizar o câmbio, para incentivar exportações e manter o movimento de substituição de importações.

”Seria prudente que o BC conduzisse a política monetária e cambial de forma que o câmbio ficasse em torno de R$ 3,30 no final de 2004. O ideal é uma desvalorização gradual”, afirmou Antônio Corrêa de Lacerda, presidente da Sobeet, durante apresentação sobre o balanço de pagamentos em 2003 e as previsões para 2004.
A Sobeet estima que o país encerrará 2003 com superávit de US$ 4,3 bilhões em transações correntes. Mas, em 2004, esse superávit recuaria para US$ 400 milhões – devido, em grande parte, ao aumento de 27% esperado nas importações no ano que vem.

Em documento onde faz um balanço da economia neste ano e coloca suas expectativas para 2004, a CNI (Confederação Nacional da Indústria) estima que ocorrerá uma pequena depreciação do real (9,5%) em 2004, fechando o ano com o dólar a R$ 3,20. “Não é o câmbio que desejamos, mas uma tendência”, afirmou o presidente da CNI, o deputado federal Armando Monteiro Neto (PTB-PE)
Nas projeções da CNI, a economia brasileira crescerá 3,5% em 2004, o que coincide com a estimativa do governo.

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