Cidade fantasma

Mais de 78 mil casas e prédios serão postos abaixo em Detroit

Por um breve período na década de 20, o edifício Book foi o mais alto de Detroit, cidade que tem uma das mais importantes mostras de arquitetura pré-Depressão de 1929 dos Estados Unidos. Hoje, seus 38 andares estão vazios. A alguns quilômetros de distância, fica a estação de trem de Michigan, que serviu a cidade de 1913 até 1988, e atualmente é uma de suas milhares de estruturas abandonadas.

Por seu porte e relevância histórica, é provável que os dois prédios sobrevivam e encontrem uma nova vocação na onda de recuperação que se esboça na região central de Detroit. Mas dezenas de milhares de casas e edifícios vão desaparecer. A demolição em massa é considerada uma medida necessária para o renascimento da cidade, que deve passar por um processo de downsizing (termo em inglês que define redução de estrutura) para se adequar ao tamanho atual de sua população.

Mas destruir 78 mil locais abandonados custa dinheiro e demanda tempo. Se cada uma tivesse uma média de quatro moradores, elas seriam suficientes para abrigar toda a população do Guarujá, no litoral de São Paulo. O preço da operação é estimado em US$ 1 bilhão por Matthew Cullen, presidente da Rock Ventures – holding que congrega várias empresas com sede em Detroit, entre as quais a líder americana na concessão de financiamentos imobiliários online.

Metade desse valor poderá vir do orçamento da cidade, nos termos do plano de reestruturação apresentado aos credores pelo interventor Kevin Orr. Outros US$ 150 milhões estão no pacote federal de socorro anunciado em setembro, que tem o valor total de US$ 300 milhões. O restante terá de vir de fundações e da iniciativa privada, que se movimenta para participar do processo, diz Cullen.

A Rock Ventures trabalha no mapeamento de todas as propriedades da cidade, que deverá mostrar quais são irrecuperáveis. Na avaliação do executivo, o ritmo atual de demolições de 3 mil estruturas por ano é demasiado lento. “O problema é que surgem novas a cada ano. É como um câncer que cresce mais rápido do que nós podemos demolir.” Cullen e outros empresários de Detroit propõem uma ofensiva que leve à destruição de todas as estruturas irrecuperáveis em três anos.

A Pulte Capital Partners dedica-se a investimentos no setor imobiliário e diz ter sido responsável pela construção de 1 milhão de residências em vários locais do mundo. Mas em Detroit o presidente da empresa, Bill Pulte, capta recursos para financiar as demolições, estimadas em US$ 10 mil por estrutura.

Pulte levantou US$ 750 mil em doações privadas e está usando os recursos para financiar a destruição de 700 unidades. “Estamos fazendo isso sem fins lucrativos, para nos livrarmos da criminalidade, do entulho e melhorar a qualidade de vida das comunidades”, diz ele.

Mas as demolições criam outro problema: o que fazer com os poucos habitantes que permanecem nas casas sobreviventes, para os quais a cidade dificilmente conseguirá prover serviços públicos de maneira eficiente. O ideal seria que a população se concentrasse em áreas viáveis. A questão é como fazer isso, observa o demógrafo Kurt Metzger: “Não há como forçar as pessoas a deixarem suas casas.” E desapropriá-las exigiria algo de que a cidade não dispõe: dinheiro. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.

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