A Braskem, maior petroquímica do Brasil e única fornecedora nacional de insumos como eteno e propeno, está com as operações do complexo instalado em Camaçari (BA) paralisadas desde a última quinta-feira. O apagão que atingiu a região Nordeste e deixou mais de 40 milhões de pessoas sem energia prejudicou a operação dos fornos instalados nas centrais petroquímicas, situação que começará a ser revertida hoje (10).
De acordo com o vice-presidente de Petroquímicos Básicos da Braskem, Manoel Carnaúba, está previsto para a noite desta quinta-feira o processo de partida de uma das centrais do complexo. A segunda central deverá ser religada a partir do próximo final de semana. “Esperamos estar com toda a operação retomada no próximo dia 19”, revelou o executivo.
Assim que as linhas de produção forem retomadas em sua plenitude, a Braskem deverá retomar o envio regular de petroquímicos básicos para clientes e para suas próprias linhas de polietileno e PVC no local – além da unidade de PVC instalada em Alagoas.
O problema enfrentado pela Braskem teve origem no desligamento elétrico que atingiu toda a região Nordeste por mais de duas horas. Com isso, os fornos de craqueamento passaram por um processo de coqueamento, quando a nafta se transforma em coque. Agora, a companhia corre para fazer a limpeza desses fornos e retomar a produção no local. Cada forno leva de 36 a 48 horas até estar apto para a operação.
A previsão de Carnaúba é de que a primeira central será retomada hoje com apenas quatro dos dez fornos de craqueamento. Os demais equipamentos devem estar limpos até o próximo dia 18. Já a segunda unidade, conhecida como Cemap 1, deverá atingir a plenitude das operações ao longo da próxima semana. Segundo Carnaúba, o processo de partida desses equipamentos leva aproximadamente 48 horas até a regularização das operações.
Além do processo de coqueamento nos fornos, um dos compressores do polo também passou por problemas, informou uma fonte a par das operações da Braskem. Carnaúba confirmou a informação, mas destacou que o problema no equipamento já foi equacionado.
O polo de Camaçari é, juntamente com o complexo de Triunfo (RS), o principal produtor de petroquímicos do País. Segundo Carnaúba, a produção no local, por hora, é de aproximadamente 145 toneladas de eteno, 70 toneladas de propeno, 40 toneladas de butadieno, 45 toneladas de benzeno, entre outros produtos. Cada central em Camaçari é responsável por aproximadamente 50% da produção anual de 1,3 milhão de toneladas de eteno do polo.
Fornecimento
A interrupção da produção da Braskem afeta grande parte do polo baiano. De acordo com Carnaúba, clientes que precisam de matéria-prima fornecida pela Braskem também postergaram a retomada da produção após o apagão. “Muitos de nossos clientes não tiveram o interesse em iniciar a produção para eventualmente interrompê-la novamente”, disse.
Os estoques locais da Braskem de produtos como eteno, propeno, butadieno e isopreno já estão esgotados. Por isso, a companhia comunicou a clientes estrangeiros – o polo baiano é o principal responsável pelas exportações da Braskem – que o cronograma de entrega dos produtos será atrasado.
Já os clientes que compram polietileno da petroquímica permanecem abastecidos pelas demais unidades da Braskem, destacou Carnaúba, que também preside o Comitê de Fomento Industrial de Camaçari (Cofic). Outra boa notícia é que o apagão no Nordeste não causou danos ambientais ou a trabalhadores da companhia, assim como grandes prejuízos em equipamentos.
Questionado se o Cofic poderia entrar com uma ação contra as empresas responsáveis pelo apagão para pedir eventuais ressarcimentos referentes a perdas comerciais e materiais, Carnaúba destacou que a decisão não deve ser tomada de forma conjunta. “Nossa primeira avaliação é de que cada empresa deve fazer (entrar com ação) individualmente, uma vez que o Cofic não possui contratos de fornecimento de energia”, explicou.