Maior área plantada de trigo ainda não atende a demanda

DivulgaçãoA produção estimada do trigo brasileiro é 5,16 milhões de toneladas, o que representa uma safra 35% maior que a de 2007. O Paraná, líder da produção nacional, espera colher 2,81 milhões de toneladas, um aumento de 44%.

Em termos de área, a cultura no Estado – que já ultrapassou 85% do total plantado – deve passar de um milhão de hectares, quase 30% a mais que na safra passada.

A melhoria dos preços no mercado interno e externo foi o principal fator que estimulou esses aumentos. No entanto, ficará longe de resolver a dependência do País das importações, pois o consumo passa de 10 milhões de toneladas.

Na avaliação dos especialistas, o cenário positivo dessa safra não significa uma retomada definitiva da cultura, que nos últimos anos perdeu espaço para o milho safrinha.

?Para a próxima safra, não se sabe o que vai acontecer. O produtor reclama da liquidez do trigo e será o preço que irá definir o cenário?, avaliou o assessor técnico e econômico da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), Robson Mafioletti.

Neste ano, além da demanda maior pelo produto, ocorreram problemas de oferta no leste europeu e na Austrália regiões que respondem por cerca de 25% da produção mundial. No entanto, Mafioletti garantiu que o produtor está estimulado, mas dificilmente o Brasil irá conquistar a auto-suficiência.

A produção acumulada de trigo no Brasil, entre 2000 e 2007, atingiu 29,2 bilhões, número suficiente para atender apenas 36% da demanda pelo cereal, que no mesmo período foi de quase 82 milhões de toneladas. Para suprir o abastecimento, o País importou 52 milhões de toneladas, que representou um custo de US$ 7,8 bilhões.

Segundo o técnico, não é só a baixa produção que interfere nesse processo. Apesar de possuir tecnologia e condição de competitividade para produzir trigo e suprir grande parte de sua demanda, o triticultor perde essas vantagens por questões de logística e distorções de mercado, a partir do momento que o produto sai dos limites das propriedades.

Entre as principais distorções estão os subsídios ao preço e à produção concedida pelo mercado internacional. Além disso, a moeda nacional valorizada favorece a importação; e o produto brasileiro ainda sofre com o elevado custo do transporte rodoviário, dos juros agrícolas, dos insumos e da competição tributária entre estados.

Outra reclamação é que o frete de cabotagem é elevado, devido à reserva de mercado a navios brasileiros; a infra-estrutura de moagem está concentrada próxima aos portos e está mais interessada em trabalhar com trigo importado.

Aposta em crescimento e benefício para as indústrias

Com o objetivo de aumentar em 25% a produção de trigo nesta safra e diminuir a dependência do mercado externo, o governo federal anunciou em abril um plano nacional para a triticultura.

Um dos pontos considerados positivos pelo setor foi o aumento do preço mínimo, que estava sem reajuste há cinco safras, e atingiu R$ 28,80 a saca, o que representa um aumento de 20%.

O governo também ampliou o limite de financiamento para custeio das lavouras de trigo sequeiro, para R$ 400 mil por produtor; bem como, abriu a possibilidade de contratação de Empréstimo do Governo Federal (EGF) durante o ano todo e não só no período de safra. O plano prevê ainda a criação de uma linha de crédito para a comercialização com taxas de juros de 6,75% ao ano e garantia de R$ 1,2 bilhão de crédito rural.

Por outro lado, o governo federal adotou medidas para tentar conter o avanço dos preços dos produtos, cujas altas estão afetando a inflação. No mês passado editou uma medida provisória que isenta da cobrança de PIS/Cofins cuja alíquota era de 9,25% – a comercialização de trigo, farinha de trigo e do pão francês.

A desoneração deverá valer até o fim do ano e atende a uma reivindicação da indústria, que vem enfrentando problemas de fornecimento. A Argentina, principal fornecedor brasileiro, está restringindo a oferta.

Também eliminou até o fim do ano a cobrança de uma taxa que incide sobre o frete marítimo nos negócios de importação de trigo de qualquer origem. Assim como estendeu para 31 de agosto a importação do trigo de países de fora do Mercosul. (RO)

Busca por qualidade

Apesar dos esforços do governo, os preços do trigo continuam em alta. No Paraná o valor médio pago ao produtor no mês de maio foi de R$ 41 a saca, segundo dados do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Agricultura e Abastecimento. Esse foi o melhor preço das últimas quatro safras, quando as médias foram de R$ 27,83 (2007), R$ 21,37 (2006), R$ 19,57 (2005) e R$ 24,51 (2004).

Para o diretor da Associação Brasileira da Indústria de Trigo (Abitrigo), Christian Saigh esses preços tendem a se regularizar a partir de setembro, quando começa a colheita. Segundo ele, a indústria tem feito a sua parte. Com a redução dos PIS/Cofins, já readequou os preços em menos 8%.

?Nós fizemos nossa parte?, disse. Saigh falou ainda que a indústria também está apostando no aumento da safra brasileira, no entanto, vai cobrar qualidade. ?A indústria quer comprar trigo, mas o produtor tem de ficar atento que hoje no mundo inteiro se paga um ?plus? pela qualidade?, disse.

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