Maílson: juro real entre 2% e 3% cria risco de inflação

O ex-ministro da Fazenda e sócio da Tendências Consultoria Integrada, Maílson da Nóbrega, disse hoje que dificilmente o Brasil chegará a uma taxa de juros real de 2% a 3% nos próximos três anos sem criar grandes riscos inflacionários. Maílson, que participou do evento Business Round Up – Perspectivas 2012, realizado pela Câmara Americana de Comércio (Amcham), em São Paulo, fez essa afirmação ao ser confrontado com uma declaração dada ontem pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, de que a taxa de juros real ideal para o Brasil seria de 2% a 3%.

“Eu torço para que o ministro esteja certo, porque a taxa de juros real que deveria prevalecer no Brasil são as do mundo rico”, disse Maílson, ponderando que a questão é saber se o País já criou as condições para tanto. “Eu acredito que não. A taxa de juros de equilíbrio no Brasil, aquela que permite explorar todo o potencial de crescimento do País e preservar a estabilidade de preços, é muito mais alta do que essa.”

O ex-ministro adverte para o fato de que ninguém sabe qual é esse número. Essa taxa, de acordo com ele, tem de ser buscada por testes, tentativas e erros, mas a experiência brasileira mostrou que, a partir de certo patamar, diminui-la é muito complicado, seja pelo que gera de pressão inflacionária, seja pelo que exige de mudanças difíceis, como a desindexação da caderneta de poupança.

“A gente viu que, quando a taxa de juros chegou a 8,75% ao ano, houve uma forte migração de recursos da renda fixa para a caderneta de poupança, sinalizando que, abaixo disso, começa a complicar”, afirmou. De acordo com ele, o Brasil ainda não tomou as medidas fiscais adequadas e previsíveis de longo prazo que justifiquem uma taxa de juros real de 2% a 3%.

Maílson disse também discordar do ministro Mantega, que acredita que a inflação brasileira cairá em resposta à queda dos preços internacionais das commodities. “Esse não é o cenário mais provável. Nós, da Tendências, temos um segmento que estuda essa questão das commodities, e a visão geral é de que, a menos que ocorra um colapso da China, Índia e em outras áreas da Ásia, os preços das commodities vão se acomodar num patamar mais baixo do que o que prevaleceu há meses atrás, mas muito mais alto do que há três ou quatro anos. Ou seja, nós não vamos ter um cenário de commodities em queda, como a que se observou no quatro trimestre de 2008”, disse.

De acordo com ele, o que está sendo visto até agora é um efeito inflacionário das commodities por que, mesmo quando há quedas isoladas nos preços, a depreciação cambial mais do que compensou essas reduções. “Se você olha o cenário, ele é de ajuste dos estoques, e não tem risco de aumento rápido da produção que sinalize uma queda tão expressiva, como o governo imagina, nos preços das commodities.”

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