Em um tom mais grave que em suas manifestações anteriores sobre o assunto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva comunicou nesta quinta-feira (24) ao primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, por telefone, sua preocupação com os efeitos de uma possível recessão nos Estados Unidos sobre a economia da América Latina. Até a semana passada, as declarações de Lula reforçavam a capacidade do Brasil de enfrentar uma turbulência externa com epicentro nos EUA. Ontem, o próprio presidente colocou o tema na primeira reunião ministerial deste ano e orientou sua equipe a trabalhar para fortalecer o mercado interno e proteger a economia brasileira.
A conversa entre Lula e Brown, que tomou a iniciativa de ligar para o presidente brasileiro, segundo seus assessores, começou às 10 horas da manhã e durou 15 minutos. Brown telefonou para tratar dos novos desdobramentos da Rodada Doha, da Organização Mundial do Comércio (OMC), neste começo de ano, e para sondar Lula sobre sua mais nova proposta de criação de um organismo internacional para o monitoramento de crises.
Durante a conversa, Brown não chegou a dizer se essa nova autoridade trabalharia desvinculada do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial (Bird), organismos que, a rigor, têm a missão de prever e contornar turbulências econômicas, especialmente as que demonstram capacidade de contaminação externa.
Segundo o porta-voz do Palácio do Planalto, Lula não comentou se concorda ou não com a idéia de Brown. Preferiu concentrar-se nos mecanismos necessários para evitar efeitos deletérios de uma crise externa sobre as conquistas da América Latina na área de desenvolvimento econômico. O presidente brasileiro teve o cuidado de, ao mencionar a América Latina, não abordar especificamente a situação do Brasil.