Brasília
– O presidente eleito do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, defendeu ontem a criação de um Parlamento Americano, semelhante ao Parlamento Europeu, uma das principais instituições da União Européia. A idéia foi anunciada a representantes de parlamentos de 35 países americanos. Segundo Lula, a integração do continente americano, em vez de começar pela economia -com a criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) – deveria ser iniciada pela área politica.Para Luiz Inácio Lula da Silva, dessa forma seria possível evitar que as oscilações naturais da economia dos diversos países criassem instabilidade no continente. A proposta foi feita durante um café da manhã na residência do presidente da Câmara, deputado Aécio Neves (PSDB-MG), com os participantes da Cúpula Parlamentar de Integração Continental, encerrada ontem no Congresso. Do encontro da casa de Aécio participaram ainda líderes de partidos políticos e a embaixadora dos Estados Unidos, Donna Hrinak. Para a embaixadora, “a reunião foi extremamente importante”.
Donna Hrinak afirmou, no entanto, que a proposta de Lula de discutir a integração política antes da econômica não é nova, uma vez que já vem sendo debatida desde 1994, na primeira Cúpula das Américas. Realizada em Miami, a primeira Cúpula das Américas reuniu os chefes de Estado de todos os países americanos, exceto Cuba, e lançou a proposta de criação da Alca, que se transformou nos últimos anos na principal iniciativa diplomática do governo dos EUA para o continente. Com a Alca, seriam eliminadas as tarifas hoje cobradas sobre o comércio de mercadorias entre os países das Américas.
Segundo o líder do PFL na Câmara, Inocêncio Oliveira (PE), durante a reunião Lula avaliou que a Argentina não consegue resolver seus problemas econômicos devido à crise política que atravessa. Lula, de acordo com Inocêncio, acredita que a Argentina só resolverá seus problemas econômicos se resolver primeiro os políticos. Aécio Neves considerou um fato novo a proposta de instituição de um Parlamento das Américas.
Segundo Aécio, dar prioridade à discussão política não significa adiar a integração econômica do continente. Para o presidente da Câmara, o que pode adiar a implementação da Alca são as medidas protecionistas que vêm sendo tomadas pelo governo dos Estados Unidos, como a criação de sobretaxas na importação de aço. “Os gestos do governo americano têm sido em direção contrária ao discurso integracionista”, afirmou.
A proposta de Lula foi elogiada também por alguns líderes partidários que participaram do café da manhã e que apóiam a idéia de retardar o processo de abertura comercial. “A proposta inibe muito a Alca”, disse o líder do PPS na Câmara, deputado João Herrmann (SP). “Lula deixou claro que precisamos falar menos de comércio e mais de política neste momento.” Inocêncio Oliveira ressaltou que o presidente eleito foi muito feliz na sua proposta. “É preciso primeiro fazer a integração política e retardar a formação da Alca. É preciso ter consciência de que a integração não é apenas comercial”, afirmou Inocêncio. Ele sugeriu que o Parlamento das Américas seja instalado em São Paulo.