Buenos Aires
– Os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e da Argentina, Néstor Kirchner, disseram em discurso realizado ontem na Casa Rosada, em Buenos Aires, que é hora de deixar as “mesquinharias” de lado. Os presidentes querem colocar os problemas sociais dos dois países no foco das discussões.Os dois presidentes assinaram oito acordos, entre os quais o chamado Consenso de Buenos Aires e outro que prevê a livre circulação de brasileiros e argentinos (turistas, empresários e estudantes) entre os dois países. O Consenso de Buenos Aires é uma espécie de contraponto ao Consenso de Washington, documento de base neoliberal que norteou a política econômica dos países em desenvolvimento nos anos 90.
Na cerimônia, marcada para “selar a paz” entre os dois presidentes, tanto Lula como Kirchner destacaram que o combate à fome deve estar acima de qualquer “mesquinharia” que surja no decorrer das relações. Lula disse que é a quinta vez que vai a Buenos Aires, mas essa vez é “a mais emocionante” porque, quando era sindicalista e ia à cidade participar de manifestações das “Mães da Praça de Maio”, jamais pensou poder um dia entrar na Casa Rosada.
Para o presidente Néstor Kirchner, a integração deverá ser principalmente acompanhada da atenção social porque, para ele, não existe democracia e nem liberdade se existem “irmãos que estejam passando fome”. “Nossos países são os principais produtores de agricultura no mundo, por isso mesmo, a fome nos nossos países nos dá vergonha”, afirmou o presidente argentino. Para o presidente Lula, “é hora de incluir os brasileiros e argentinos na justiça social”. “O futuro das nossas relações merece de nós todo e qualquer sacrifício para se plantar a árvore da integração”, disse Lula.
Em um encontro com empresários brasileiros com investimentos na Argentina, Lula pediu uma “oportunidade verdadeira” aos países desenvolvidos. “O Brasil, certamente, tem uma relação extraordinária com os Estados Unidos, União Européia e Japão. Mas queremos ter mais oportunidades. Oportunidades verdadeiras”, afirmou. Lula disse que o Brasil e a Argentina não estão pedindo “nenhum favor, já que a meta é conquistar um lugar que já é nosso”.
No discurso, Lula insistiu na criação da Área de Livre Comércio das Américas, a Alca, mas ressalvou: “Que não venham com barreiras tarifárias para impedir nosso comércio”. As declarações foram feitas no encerramento do seminário Integração da América do Sul, Desafios e Oportunidade, do Grupo Brasil, que reúne cerca de 200 empresas brasileiras na Argentina.
A Alca foi um dos assuntos de destaque. “Argentina e Brasil se colocarão no cenário mundial, mas nós também queremos ser respeitados e tratados com igualdade de condições”, disse Lula.