O Brasil buscará a auto-suficiência no gás, disse ontem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em seu programa semanal de rádio. Ele informou já ter orientado o ministro de Minas e Energia e o presidente da Petrobras para que eles trabalhem com esse objetivo.
"O Brasil não pode ficar dependendo de nenhum país, quando se trata de uma questão energética importante para o desenvolvimento", declarou Lula. Ao mesmo tempo em que falou em independência, porém, Lula defendeu a construção do mega-gasoduto que sai da Venezuela, passa pelo Norte do País, pela Bolívia, Argentina e chega ao Chile alegando que "isso pode resolver o problema do fornecimento de gás para um século".
Lula usou um tom ameno em relação à Bolívia, apesar da ameaça velada da busca da auto-suficiência energética. Ele defendeu a necessidade de negociar com a Bolívia, "de forma civilizada" o novo preço do gás. "
Não vamos fazer provocação. Não vamos fazer retaliação a um país que é infinitamente mais pobre que o Brasil um povo mais faminto que o povo brasileiro, então, nós estamos tratando isso com carinho", disse Lula, que aproveitou para atacar a oposição e seus críticos. "Eu sei que tem gente que gostaria que o Brasil fosse virulento. A nossa política é de paz é de acordo e é de sensatez, e eu acho que é isso que vai contribuir para o Brasil", avisou.
Lula garantiu que não haverá aumento do preço do gás para o consumidor, mas não diz quem arcará com o reajuste. "Ele vai aumentar quando tiver de fazer a renovação do contrato. De cinco em cinco anos, a Petrobras tem que discutir e fazer o reparo no preço porque o preço sempre será uma coisa que tem uma combinação", declarou Lula, sem citar, no entanto, quando este reajuste poderá acontecer. No Planalto, especula-se que neste mês de maio seria justamente a época de renovação do contrato.
O consumidor, porém, não será prejudicado com aumento de preços, garantiu Lula em seu programa de rádio. Essa foi também uma das principais conclusões da reunião de coordenação política de ontem.
Ao final do encontro de Lula com um grupo de ministros o porta-voz da Presidência, André Singer, assegurou que "não haverá aumento do preço de gás para o consumidor seja ele residencial, empresarial ou para donos de automóveis; que não haverá desabastecimento de gás e que o governo trabalha para que em médio prazo, o País não tenha mais dependência externa de gás, aumentando as fontes internas de sua produção de gás".
Sobre as ameaças da Bolívia em aumentar o preço do gás em 61%, o porta-voz respondeu: "A Bolívia pode ter o desejo de fazer reajuste de preço, mas ele será negociado de tal forma que não creio que haja qualquer prejuízo para a Petrobras".
Questionado quem absorveria o aumento, André Singer insistiu que "o ambiente é de negociação" e que a partir de amanhã, com reuniões em La Paz, o processo de discussão será desencadeado, "sem que implique em qualquer tipo de perda para a Petrobras".
Lula aproveitou o programa de rádio para defender, didaticamente a decisão da Bolívia de ter nacionalizado seu gás. Ele lembrou que isso já foi feito no Brasil, no Chile, na Argentina, Iraque, Irã, Líbia, México e Peru.
"Todos os países querem ser donos da riqueza que está no seu subsolo e a Bolívia tem no gás sua única riqueza." E, insistiu, ao falar sobre a reação que houve no país contra a nacionalização do gás pela Bolívia que está "tranqüilo que o Brasil está fazendo o que deve ser feito".