Lula: combinação de interesses para que os dois países saiam ganhando. |
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva previu ontem que até 2008 o Brasil estará ?praticamente independente de gás?, sem dependência de importação do produto da Bolívia. ?Obviamente queremos continuar importando o gás da Bolívia, porque interessa também ao Brasil ajudar o povo boliviano, que é um povo pobre, e interessa à Bolívia ajudar o Brasil vendendo gás.? Ele defendeu ?uma combinação em que os dois países saiam ganhando?.
?Um país com a dimensão do Brasil não pode ficar dependente (energeticamente) de nada, de qualquer outro país?, afirmou entusiasmado, em discurso de tom às vezes ufanista, ao lado da governadora do Rio Grande do Norte, Vilma de Faria (PSB), em Natal, quando visitou as obras da Ponte Newton Navarro, que ligará o litoral norte ao litoral sul da cidade. Ao frisar que o Brasil será a maior potência energética do planeta no século 21, sem necessidade de usar energia nuclear, mas sim energia limpa – álcool e biodiesel, menos poluentes e geradores de empregos – ele destacou: ?Em se tratando de energia, eles (nas suas palavras, o mundo desenvolvido, constituído da Europa, Japão e Estados Unidos) terão de perguntar para nós como fazer essas coisas bem feitas em energia.?
?Eles vão ter que introduzir o biodiesel ou o álcool na gasolina e quem produz isso é o Brasil e ninguém consegue competir com o Brasil em relação ao álcool e ao biodiesel?, concluiu.
O otimismo do presidente derivou da reunião de anteontem com o Conselho Nacional de Energia, em função ?daquele problema que aconteceu do Brasil com a Bolívia? e no qual o governo brasileiro decidiu ?trabalhar de forma mais arrojada? para a sociedade ter tranqüilidade, sem risco de falta de energia, a exemplo do apagão de 2001.
Neste encontro, disse ele, foi anunciada uma ação da Petrobras que significa ?uma grande revolução energética no mundo?: ?A Petrobras vai refinar óleo bruto de qualquer oleaginosa, seja mamona, soja, dendê, girassol. Vai moer o óleo diretamente junto com o petróleo e extrair subprodutos?. ?É uma nova Petrobras?, observou ao citar a criação do programa do biodiesel, que, segundo ele, gerou 100 mil empregos para pequenos agricultores, e destacar que já está aprovado um projeto que permitirá ?logo? o funcionamento das termelétricas a álcool. ?Vamos poder produzir mais, exportar mais e não vamos ficar dependendo de matéria-prima importada para nossas termelétricas.?
Paternidade
O presidente citou a palavra ?revolução? quatro vezes ao falar sobre energia no seu discurso. E comparou a felicidade da notícia da moagem do óleo bruto com oleaginosas, pela Petrobras, à emoção do nascimento de um filho. ?Me sinto como se tivesse nascido o primeiro filho?, disse. ?Esta notícia de ontem (18) me fez ir para casa e dizer a dona Marisa: acho que se eu morresse hoje estaria satisfeito porque o que nós conseguimos foi um feito histórico para o País.?
?Se nós precisamos de 50 anos para transformar a Petrobras em uma empresa auto-suficiente em petróleo, não vamos precisar de mais 50 anos para conseguir a auto-suficiência do biodiesel?, garantiu, ao relembrar que a perspectiva brasileira era a de colocar 5% de biodiesel no óleo diesel em 2013, ?para baratear, tornar menos poluente e gerar emprego no semi-árido nordestino?. ?Mas com esta revolução, fiquem certos, mudará a história do Brasil nos próximos anos.?
Petrobras retira proposta para expandir gasoduto
São Paulo (AE) – A Agência Nacional do Petróleo (ANP) confirmou ontem que a Petrobras, a espanhola Repsol e a francesa Total retiraram suas propostas de expansão do gasoduto Brasil-Bolívia. As propostas haviam sido apresentadas no final de março a partir de chamada pública realizada pela TBG, responsável pelo gasoduto, e submetidas à ANP. A reguladora estava atualmente analisando as propostas, confrontando-as para dar prosseguimento ao processo licitatório.
Além das três empresas, também haviam manifestado o interesse de participar da expansão do gasoduto, Pan American Energy do Brasil (2,70 milhões m3/dia)e a British Gas (6,10 milhões m3/dia). Segundo a assessoria de imprensa da ANP, ambas as empresas pediram o adiamento da análise das propostas por um período de 180 dias, mesmo prazo estabelecido no decreto de nacionalização das reservas bolivianas para o período de transição às novas regras.
A ANP estuda a possibilidade de suspender a licitação por falta de interessados. No processo, a Repsol/YPF havia feito proposta para ampliar a capacidade do gasoduto em 6,6 milhões m3/dia, a Total em 5,65 milhões m3/dia e a Petrobras em 15,00 milhões m3/dia, totalizando com a BG e a PanEnergy 36,05 milhões de capacidade, além dos 30 milhões atuais, em prazos variáveis entre 15 e 20 anos.
A Bolívia, na época do início do processo licitatório, cerca de três meses antes do decreto de Evo Morales, mas já no atual governo, havia expressado a possibilidade de expandir a capacidade do duto no lado boliviano em 21 milhões de metros cúbicos por dia. Logo que foi publicado o decreto boliviano, o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, comentou que não havia mais clima favorável para o investimento.