Lula diz que pobreza é causa do terrorismo

m seu discurso de encerramento na Cúpula América do Sul-Países Árabes, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva citou a pobreza como uma possível causa para o terrorismo. Ao mencionar que o comércio mundial tem de ser de duas vias e não pode haver relações de exploração, Lula disse que o terrorismo existe por causa da má distribuição de renda.

?O equilíbrio nessa relação (de comércio) é a única possibilidade para permitir que cresçamos juntos, porque se apenas uns crescerem esta árvore poderá ser muito alta, mas os galhos serão frágeis e podem quebrar com a falta de democracia e com o terrorismo existente por causa da má distribuição da riqueza?, declarou.

Iraque e Palestina

Lula discursou de improviso e tentou mostrar em sua fala um Brasil pacífico, tolerante com a diversidade e receptivo com a comunidade árabe. Citou também alguns temas que fazem parte da Declaração de Brasília, assinada pelos países membros da cúpula.

Ao mencionar a questão da Palestina, Lula afirmou que nasceu na ?política brasileira defendendo o Estado palestino?, mas acrescentou que nunca negou ?a necessidade de um Estado de Israel?.

Sobre o Iraque, o presidente lembrou que o Brasil contestou a ocupação porque entendeu que era ?preciso negociar mais?. Lula disse ainda que é necessário consolidar a democracia e o desenvolvimento do Iraque. ?Como os outros, o povo iraquiano tem o direito de construir sua própria felicidade e seu país?, disse.

Carta destaca Iraque e Palestina

A Declaração de Brasília, resultado dos trabalhos da primeira Cúpula América do Sul-Países Árabes, encerrada ontem, defendeu a criação do Estado palestino independente, ?com base nas fronteiras de 1967?, que possa coexistir pacificamente com Israel. ?O passado chegou ao final, estamos com uma visão de futuro?, disse o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, em entrevista à imprensa ao final da reunião de cúpula. Com relação às crescentes tensões, ataques militares e atos terroristas no Oriente Médio, que ?colocam em risco a paz regional e mundial?, os signatários da Carta de Brasília reafirmaram apoio aos esforços das Nações Unidas em favor da retomada do processo de paz.

Árabes e sul-americanos conclamaram ?as partes interessadas a empreenderem esforços no sentido de apoiar um processo negociador baseado nos princípios e nas normas fundamentais do Direito Internacional?. Especificamente sobre o Iraque, a cúpula enfatizou a importância de não haver ingerências nos assuntos internos do país. Neste sentido, os chefes de Estado e de governo, além dos representantes das delegações, ressaltaram ?a importância de respeitar a unidade, a soberania e a independência do Iraque e de não interferir em seus assuntos internos?.

Na declaração, acrescentaram o respeito à vontade do povo iraquiano de decidir livremente seu futuro, como foi manifestado nas eleições de janeiro deste ano. As eleições naquele país significaram ?um passo decisivo rumo à transição pacífica de poder, com vistas ao estabelecimento de um governo democrático, constitucional e federal e à conclusão do processo político?, destacam os signatários da carta.

Os signatários condenaram expressamente as ações terroristas no Iraque, ?que têm como alvo os civis, a infra-estrutura e o processo democrático?. Reivindicaram, ainda, um papel mais relevante da Liga dos Estados Árabes no processo de reconstrução do Iraque e de suas instituições.

A sanções impostas à Síria, considerada pelos Estados Unidos como um dos países integrantes do ?Eixo do Mal?, também está na Declaração de Brasília. Os representantes da América do Sul e dos países Árabes expressaram ?profunda preocupação com as sanções unilaterais impostas à Síria pelo governo dos Estados Unidos da América?. Eles acrescentam que tal atitude viola princípios do Direito Internacional e constitui ?uma transgressão dos objetivos e princípios das Nações Unidas, na medida em que estabelecem um grave precedente nas relações entre estados independentes?.

Malvinas

A reabertura das discussões sobre a soberania das Ilhas Malvinas, disputadas pela Grã-Bretanha e Argentina, é outro tema da Carta de Brasília. Os chefes de Estado e de governo convocaram os dois países a restabelecer as negociações ?a fim de que se encontre, o mais brevemente possível, uma solução justa, pacífica e duradoura para a controversa soberania em relação à questão das Malvinas?.

Os sul-americanos e árabes também criticaram a inclusão das Ilhas Malvinas no mapa da União Européia. ?A inclusão das Ilhas Malvinas, Geórgias do Sul e Sandwich do Sul como territórios associados à Europa no Anexo II, relativo ao Título IV ?Associação dos Países e Territórios Ultramarinos?, da Parte III do Tratado Constitucional da União Européia, é incompatível com a existência de uma disputa de soberania sobre as referidas ilhas?, afirma a Declaração de Brasília. 

As boas relações com a Argentina

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que reclamações de empresários não podem prejudicar as relações entre Brasil e Argentina.

Lula disse que se os argentinos se queixam da invasão de determinados produtos no comércio do país, produtores brasileiros também reclamam do ingresso de produtos do país vizinho no mercado nacional, sobretudo na região Sul. ?Isso não pode fazer com que os chefes de Estado não determinem uma política maior para os seus países?, argumentou.

Na opinião de Lula, os dois presidentes precisam pautar a política internacional sem ceder aos setores empresariais.

?Discutimos tudo o que tínhamos de discutir, eu penso que temos compreensão da problemática das relações comerciais. Nós precisamos construir um processo para que a gente não fique discutindo o varejo de um ou outro setor econômico que se sente prejudicado aqui ou ali porque isso vale para as duas partes?, disse Lula.

Kirchner

Lula desmentiu que a volta antecipada do presidente Néstor Kirchner, que retornou para a Argentina anteontem à noite, antes da aprovação da Carta de Brasília, aprovada nesta quarta-feira ao final da Cúpula América do Sul-Países Árabes, tenha causado algum mal-estar.

Segundo Lula, Kirchner foi embora depois que o documento foi concluído. Na Carta de Brasília, o país vizinho recebeu um agrado ao ser incluído no texto pedido de retomada das negociações entre a Argentina e o Reino Unido para resolver a questão das Malvinas.

Ao relativizar a crise entre os dois países, Lula recorreu novamente ao futebol: ?Se tem uma coisa que está hoje meio nervosa entre Brasil e Argentina é apenas meu Corinthians. Está tudo tranqüilo. Me parece que o problema é meu agora porque eu que sou corintiano?, brincou.

Apoio para uruguaio

Os membros da Cúpula América do Sul-Países Árabes aprovaram ontem um acordo em que assinalam a importância da nomeação de um candidato de um país em desenvolvimento para novo diretor-geral da OMC (Organização Mundial do Comércio). A declaração, aprovada à parte da Carta de Brasília, serve na prática como um apoio ao candidato uruguaio, Carlos Pérez del Castillo, que disputa o cargo de comando na OMC com o francês Pascal Lamy.

O apoio, proposto pelo presidente uruguaio Tabaré Vázquez, foi aprovado por aclamação durante a plenária de encerramento da cúpula. O documento destaca que a nomeação do diretor-geral da OMC de um país em desenvolvimento é uma forma de ?democratizar e ampliar? a atuação dos principais mecanismos multilaterais da organização.

O novo diretor-geral da OMC pode ser conhecido já nesta semana. Dois candidatos – Luiz Felipe de Seixas Corrêa, do Brasil, e Jaya Krishna Cuttaree, de Maurício – já foram eliminados da disputa. Após a eliminação de Seixas Corrêa, o Itamaraty já havia anunciado a posição do governo brasileiro de apoiar o uruguaio.

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