Para Lula, prioridade é
reduzir juro ao consumidor.

Brasília – “Não quero brincar com a economia brasileira”. A afirmação foi feita na manhã de ontem pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante discurso na solenidade de posse do empresário Eduardo Eugênio Gouveia Vieira na diretoria da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan). Lula minimizou a alta da taxa básica de juros (Selic) e destacou a prioridade do governo na redução dos juros ao consumidor. “Vejo meus companheiros falarem que a Selic está muito alta, mas o consumidor já pagou 150% de juros por uma geladeira e nunca vi ninguém defendendo o consumidor”, discursou.

Em seguida, o presidente questionou: “Por que não baratear juros para o consumidor?”. E citou as iniciativas do governo de conceder empréstimos aos trabalhadores em folha, com juros mais baixos, beneficiando, inclusive, os aposentados. O presidente destacou que, apesar de ser um ano eleitoral, as decisões do governo não levam em conta as eleições. “Se o governo FHC tivesse mudado a política cambial em 1998 e aumentado a taxa de juros, que estava em 15% em 2002, não era preciso elevar os juros hoje”, afirmou.

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central anunciou na quarta-feira a elevação da taxa básica de juros de 16,25% para 16,75% ao ano. Lula também lembrou a decisão de elevar este ano a meta de superávit primário do governo para 4,5% do Produto Interno Bruto.

O presidente falou ainda sobre a participação dos empresários no debate sobre políticas de desenvolvimento. “Criamos um Conselho de Desenvolvimento com a participação de 11 ministros e de 11 representantes da sociedade, dos quais oito são representantes dos empresários. Além disso, o ministro Antônio Palocci apresentou 21 medidas que foram sugestões desse conselho para que se pudesse fazer redução de determinados tributos”, afirmou. Lula comemorou ainda a geração de mais de 1,6 milhão de empregos na construção civil desde o começo do ano.

Selic

O ministro Antônio Palocci disse que confia na decisão e nas avaliações do Copom sobre a elevação da Selic. “Nós confiamos integralmente nas avaliações do Copom”, afirmou Palocci, acrescentando que as atas do comitê têm sido muito claras e o Banco Central tem sido absolutamente transparente nas suas politicas.

O ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, considerou “cautelosa” a decisão do Copom de aumentar os juros. Para o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, a elevação da Selic “é uma questão transitória” e “o País caminha para um ambiente de juros menores”. Sobre o impacto da elevação da taxa nas exportações, Furlan disse que as linhas de crédito oferecidas às empresas contrabalançam a elevada taxa de juro.

Imagem negativa afasta turistas

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que o turismo é a forma mais eficaz e barata de fazer inclusão social. “É uma atividade que pode gerar trabalho para milhões de adolescentes. O turismo é a grande alavanca para recuperar a esperança dessa gente”, disse o presidente, ao participar do 32.º Congresso Brasileiro de Agências de Viagens, no Rio de Janeiro.

Segundo o presidente, o problema que afasta o turista estrangeiro do Brasil é a imagem negativa que o País tem no exterior. “Esses fatos não podem e não servem para ajudar o turismo. É preciso saber como tratá-los. Temos que mostrar os problemas, mas sem afetar a essência do País”, ressaltou.

Lula disse que o governo atual está num estágio mais avançado na área do que os anteriores. “Não existe tabu neste governo. Não há tema que não possa ser discutido. Vamos inserir a imagem do Brasil no mundo de uma forma mais ousada. Se a gente mostrar a beleza das Cataratas do Iguaçu, Niágara vai desaparecer do mapa”, afirmou.

O governo vai destinar US$ 80 milhões ao Ministério do Turismo para que possam ser desenvolvidas as políticas da área. Lula ressaltou que uma das utilidades dos recursos será a preservação de monumentos históricos.

Ao entrar num dos estandes do Congresso, Lula foi vaiado por participantes que foram barrados pela segurança presidencial.

Críticas de todos os lados

O presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Guilherme Afif Domingos, avalia que, com o aumento da Selic, o Copom sinalizou que, “depois da eleição, vem pacote de maldades”. Para ele, tudo indica que o governo está se antecipando às pressões de custos que poderão ser geradas com um aumento nos preços da gasolina e diesel acima do esperado.

O presidente da Federação do Comércio do Estado do Rio de Janeiro (Fecomércio-RJ), Orlando Diniz, afirmou que a decisão do Copom é uma ameaça à melhora das vendas de fim de ano esperada por todo o segmento do comércio de bens e serviços.

Não só a expectativa do comércio foi atingida pela decisão do Copom, mas também a tomada de decisões pela indústria para expandir a capacidade instalada, avaliou o coordenador da assessoria econômica da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), Igor Morais.

Para o economista e professor da Universidade de Campinas (Unicamp), Luiz Gonzaga Belluzzo, a posição do Copom foi uma decisão política de reafirmação de poder e não uma medida baseada em critérios econômicos.

Bancos mantêm juros

Os bancos estão mantendo as taxas de juros cobradas dos clientes, apesar da elevação da Selic, anteontem, pelo Comitê de Política Monetária (Copom). O aumento foi de 0,50 ponto porcentual, acima do esperado pelo mercado, que previa 0,25 ponto. Com isso, a Selic passou para 16,75% ao ano. Bradesco, Unibanco e HSBC informaram que vão manter as taxas dos empréstimos a pessoas físicas e jurídicas. O Itaú anunciou que não tem previsão de mudança por enquanto. A Caixa Econômica Federal (CEF) também não alterou nada.

Já o Banco do Brasil (BB) foi mais cauteloso e admitiu que estudará o tema. “Acredito que é prudente reajustar as taxas quando sobe o custo do dinheiro”, disse o vice-presidente de Varejo e Distribuição do BB, Edson Monteiro. Segundo ele, a instituição avaliará o impacto do aumento dos juros para identificar onde há espaço de ajuste. A decisão de elevação ou não das taxas será tomada pelo conselho diretor.

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