O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse hoje, em entrevista após encontro com o presidente Hugo Chávez, que não teme que as empresas brasileiras na Venezuela sofram qualquer tipo de processo de nacionalização, como ocorreu com empresas de outros países. “De jeito nenhum”, disse Lula, ao afirmar que esse assunto não tem de ser “ideologizado”.
“Estado fraco não é Estado, é massa de manobra”, disse o presidente. “Quando o governo erra, o povo tem uma chance, a cada quatro ou cinco anos, de tirá-lo. E aí vem um governo que apresenta novas propostas”, completou. Lula ressaltou ainda que é preciso reduzir a importância da discussão sobre o papel do Estado e da iniciativa privada. Para ele, não precisa haver antagonismo nessa discussão.
Questionado se estava defendendo o processo de nacionalização de empresas feito pelo presidente Hugo Chávez, Lula disse que não se tratava desse tipo de discussão, repetindo que não tem de se “ideologizar” o tema. O presidente Hugo Chávez, que participou da entrevista, disse que a Venezuela tem dinheiro para pagar a incorporação de empresas de vários países pelo Estado, apesar da redução do preço do petróleo.
Petrobras e PDVSA
O presidente Lula brincou, durante a entrevista coletiva, sobre as dificuldades de acordo entre a Petrobras e a estatal venezuelana PDVSA para a construção da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. “São duas moças muito bonitas, muito fortes, que disputam milimetricamente cada questão”, disse ele, lembrando que, no máximo em 90 dias, haverá acordo, não só para a construção da refinaria, mas também em relação à distribuição de petróleo na faixa do Rio Orinoco.
Durante encontro hoje na capital baiana, os governos brasileiro e venezuelano não chegaram a um acordo sobre a refinaria Abreu e Lima e foi dado o prazo de mais 90 dias para a discussão das questões.
Ao discursar antes do início da entrevista, Lula falou ainda sobre os 12 atos assinados entre os dois países e defendeu a necessidade de ajudar a Venezuela com financiamentos de projetos. Em sua fala, Lula chegou a brincar que, no caso de um acordo entre a Caixa Econômica Federal (CEF) e o governo venezuelano, a instituição deveria levar para lá só o lado bom da experiência e não a burocracia, amenizando, em seguida, que a burocracia já melhorou, no caso do programa habitacional “Minha Casa, Minha Vida”.
O governo de Chávez quer assessoria da Caixa Econômica Federal para a construção de uma rede bancária pública e criação de um sistema de financiamento de casas populares na Venezuela.
Mercosul
Lula disse que espera que o Senado brasileiro delibere sobre o ingresso da Venezuela no Mercosul, antes da próxima reunião bilateral, marcada para daqui a três meses. O presidente aproveitou para comemorar que, durante o encontro com Chávez, foi fechado um acordo de adequação de tarifas entre os dois países, que é um dos itens que emperra a entrada da Venezuela no Mercosul.
Lula contou que, quando chegou a Salvador, ontem, o acordo não estava fechado e que os dois governos se empenharam para que a Venezuela aderisse a um cronograma de redução de tarifas. “É um problema a menos. Espero agora que o Senado vote antes da próxima reunião de Caracas e possamos comemorar”, disse.
Ao criticar a demora da conclusão de negócios e protocolos entre Brasil e Venezuela, o presidente Lula lembrou que cada vez que toma uma decisão, sempre “esbarra na máquina” para que as coisas sejam colocadas em funcionamento. Para Lula, agora “as coisas estão mudando porque o tempo exige que sejamos mais rápidos. Ainda mais em momentos de crise. Crise que não temos culpa nenhuma”.
Durante entrevista coletiva após reunião com o presidente venezuelano Hugo Chávez, Lula voltou a falar da solidez do sistema financeiro do Brasil e do fato de o país ser vítima da especulação dos que “enricavam sem produzir nada”. Ele disse ainda que está vendo a nossa economia não em recessão, mas também não no ritmo que estava evoluindo até setembro do ano passado.
O presidente comemorou também as boas relações entre Brasil e Venezuela e disse que “os que apostaram no fracasso das relações ou no enfraquecimento do Mercosul perderam”. “Ponham as mãos para os céus pelas relações entre Brasil e Venezuela”, disse ele, ao comemorar também as boas relações com os demais vizinhos da região.
Para o presidente, é importante ajudar a industrializar a Venezuela, para equilibrar a balança comercial entre os dois países já que o déficit hoje é de US$ 4,5 bilhões. “Eu quero a Queiroz Galvão, a Odebrecht produzindo lá. Porque senão o comércio do país vai deixar de ser dependente dos Estados Unidos e Espanha para ser do Brasil”, disse. “Não adianta o Brasil crescer sozinho. Quanto mais poder aquisitivo na América Latina, as chances do nosso país crescer são muito maiores”, comentou o presidente.
Para Lula, “não há tempestade ou vendaval que a disposição de hoje não possa vencer. Estamos vencendo séculos de preconceito, abandono, e essa é a primeira vez que estamos acreditando em nós”.
O presidente lembrou que, até o final do seu mandato, ainda terá cinco reuniões com Chávez e disse que quer inaugurar na Venezuela obras que estejam sendo executadas por empresas brasileiras. “Não quero mais lançar pedra fundamental. Estou precisando inaugurar uma obra lá”, disse.