O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou hoje, em Campinas (SP), os usineiros pelos recentes aumentos no preço do etanol, cobrou seriedade do setor e garantia de oferta do combustível renovável para não afastar possíveis consumidores internacionais.
“Quero dizer que não pode ser assim. O álcool quase acabou nesse País porque não houve seriedade e não houve ajuste de conduta entre empresários, governo e a indústria automobilística. Se quisermos fazer do etanol a matriz energética deste País, precisamos ter seriedade”.
A declaração ocorreu durante evento que marcou a assinatura de convênio entre a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e o Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE).
No discurso, Lula mostrou ter ignorado as justificativas dos empresários para os reajustes do etanol, e criticou principalmente o aumento na produção de açúcar em detrimento do combustível.
“É no momento em que o álcool está subindo de preço que os empresários argumentam que, como houve excesso de chuvas, houve impossibilidade de cortar 60 milhões de toneladas de cana plantada”, disse. “Quando o álcool está com bom preço, vocês são empresários energéticos, e quando o açúcar fica com bons preços, viram empresários da agricultura”, criticou.
Lula cobrou uma discussão com “seriedade e serenidade” sobre o setor alcooleiro porque “senão todo o trabalho de publicidade para europeus, japoneses e americanos introduzirem etanol na gasolina vai ruir quando perguntarem se garantimos a oferta”.
Durante o evento, o presidente voltou a afirmar que tem conversado muito com os usineiros, diferentemente do que acontecia no passado. “Eles tinham medo de mim e eu deles”, afirmou. Lula citou “que a história vai mostrar que quem levantou a frota verde foram os trabalhadores, quando, em 1990, incentivamos que os governantes comprassem carros a álcool”.
Crítica aos EUA
Antes de criticar os empresários do setor, Lula defendeu o etanol e não poupou farpas aos Estados Unidos após o fracasso do fórum sobre mudanças climáticas, realizado no final do ano passado em Copenhague.
“Muitos países não estão querendo discutir as questões climáticas com seriedade; os Estados Unidos não querem assumir compromisso”, disse o presidente, que criticou os norte-americanos também por cobrarem uma posição na redução de emissões de gases de efeito estufa da China.
“(Os EUA) querem que os chineses sejam tão responsáveis pelo aquecimento global quando eles que têm 200 anos de aquecimento global”, afirmou Lula. “Todos nós temos responsabilidades diferenciadas”, disse.
Matriz energética
Lula afirmou ainda, na linha de defesa do etanol, que “é inexorável” o álcool se transformar na grande matriz energética na área de combustível. Nesse momento, Lula brincou e arrancou risos da plateia ao assumir ter ficado surpreso por conseguir pronunciar a palavra inexorável.
O presidente disse ainda que o País tem estrutura, disposição e cientistas preparados no setor de pesquisas em etanol e voltou a cobrar dos países ricos o uso do combustível.
“O que precisamos é os países ricos transformarem os discursos em prática e coloquem o etanol na gasolina deles”, afirmou. “Hoje não existe no mundo ninguém que venha dar lição no Brasil sobre questão ambiental e clima. Se quiser dar, primeiro faça a lição de casa”, concluiu.