Ricardo Stuckert / ABr |
Lula: "Estamos colocando no mercado |
Brasília – Ao discursar ontem no lançamento da Primeira Edição Especial dos Melhores Cafés do Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva acabou fazendo uma defesa da política de juros do governo. Lula disse que as pessoas reclamam do aumento da taxa Selic, afirmando que isso vai reduzir o consumo, mas na verdade o mercado não pára de crescer e as vendas nos supermercados continuam a aumentar.
Para Lula, isso se deve ao fato de que, mesmo aumentando a taxa de juros, o governo está colocando no mercado uma quantidade enorme de dinheiro ?que não estava previsto em nenhum manual de economia?. Ele citou a liberação de dinheiro por crédito consignado, o microcrédito e empréstimos bancários mais baixos para os aposentados. Ao falar da taxa de juros, Lula acabou se confundindo e afirmou que a Selic estava em 19,25% ao mês, quando na verdade está em 19,5% ao ano.
?Mesmo com a Selic em 19,25% (19,5%), o mercado continua a crescer, o varejo continua a crescer, os supermercados estão vendendo mais. É um acesso a um dinheiro que antes não tinha. As pessoas não estão percebendo algo que não estava escrito em nenhum manual de economia. É que estamos colocando no mercado uma quantidade de dinheiro que não estava prevista?, discursou.
Contra-ataque
O presidente da Fiesp, Paulo Skaff, que estava no encontro, disse que Lula tem o direito de ter sua opinião, mas ressaltou que para os empresários as taxas de juros continuam nocivas ao país. Para Skaff, a política de facilitação de crédito feita pelo governo é positiva, mas não resolve o problema. ?Esses aumentos de juros são nocivos ao país e injustificáveis?, declarou. Skaff também reagiu à afirmação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que o brasileiro é comodista e ?não levanta o traseiro da cadeira? para trocar de banco e buscar juros menores. Ao participar da Primeira Edição Especial dos Melhores Cafés do Brasil, Skaff disse que o consumidor paga altos juros, inclusive no cheque especial, porque é obrigado, e não por prazer. ?Quem paga esses juros é obrigado. Ninguém tem o prazer de gastar uma fortuna no cheque especial. Quem acaba pagando é por necessidade. A sociedade não é comodista e, além do mais, não tem tantas opções assim (de taxas diferenciadas entre os bancos)?, afirmou Skaff.
Segundo ele, ?o aumento da taxa Selic alavanca o custo para cima e alavanca os gastos públicos porque um dos gastos principais do governo é o pagamento de juros e esta última decisão, que foi tão fácil, após contrariar toda a sociedade, custa ao País R$ 2 bilhões ao ano e quase R$ 200 milhões ao mês?.
Defesa
O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, saiu em defesa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. ?Realmente as pessoas precisam se levantar e tomar uma atitude?, disse Furlan, reclamando que as pessoas só se mobilizam contra alguma coisa, e não a favor. ?Quando há uma ameaça como a Medida Provisória 232 (que aumentava impostos de alguns setores) há uma mobilização maciça; quando existem no Congresso 500 projetos, muitos deles essenciais para o desenvolvimento, o crescimento, a mobilização da sociedade é muito tênue?, desabafou Furlan. Ele comentou que normalmente quando o setor privado tem um objetivo, luta por ele, mas às vezes a acomodação prevalece.
Alencar cobra pressão popular
O vice-presidente e ministro da Defesa, José Alencar, disse que cabe à sociedade ?fazer pressão? contra as altas taxas de juros cobradas pelo sistema financeiro brasileiro. Ele concordou com as declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que, na segunda-feira, disse que a classe média precisava ?levantar o traseiro? contra os juros. Segundo o vice-presidente, a sociedade não pode aceitar as altas taxas de juros cobradas pelo bancos. ?Não vamos tabelar as taxas cobradas pelos bancos. Quem tem que se defender é quem paga.?
Ele também defendeu uma campanha de orientação para evitar que a população aceite os juros altos. ?As pessoas não sabem onde estão se metendo. (…) O cidadão precisa saber que essas taxas são um assalto.?
O vice-presidente é um dos maiores críticos da política de juros do Banco Central, mas ontem, entretanto, Alencar concentrou suas críticas aos spreads bancários (ganho bruto dos bancos com empréstimos). ?Quando o Copom baixa a Selic em 0,5 ponto percentual, o sistema bancário baixa em 0,5 ponto também. Mas 0,5 ponto de uma taxa de 150% ao ano não é o mesmo que uma redução de 0,5 ponto de uma taxa de 19%.?
Apesar de defender uma ação da sociedade contra os juros altos, Alencar disse que é essencial que os devedores paguem suas dívidas. ?A inadimplência abre espaço para que os bancos justifiquem essas taxas?, afirmou.
Para PPS e PDT, declaração é um ?escárnio?
Brasília – O presidente da CNI, Armando Monteiro Neto, também disse não concordar com as declarações de Lula. ?É muito simplismo jogar para o consumidor a responsabilidade pelo excesso da taxa de juros?, disse ele. ?No Brasil os juros são excessivos, há uma sobrecarga da política monetária que impõe um ônus desnecessário sobre a população.?
O presidente do grupo Gerdau, Jorge Gerdau Johanpeter, lembrou o alto endividamento público para dizer que ?o governo é o maior responsável pelo alto custo do dinheiro no País, porque desequilibra a oferta e a procura?. Segundo Gerdau, para sustentar a dívida ?o governo drena os recursos do mercado e converte o dinheiro numa mercadoria escassa?. Nessa situação, afirmou, ?o tomador do dinheiro tem pouco a fazer?. Gerdau criticou ainda a tributação sobre a intermediação financeira, que também contribui para o alto custo do dinheiro. ?Em nenhum país do mundo a intermediação é sujeita a tributação. Só se paga imposto sobre o lucro?, disse o empresário.
Nota pública
Os presidentes do PPS e do PDT divulgaram uma nota pública criticando a postura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que em discurso ontem culpou a população pelos altos juros praticados no país e disse que os brasileiros deviam ?levantar o traseiro da cadeira? e trocar de banco em vez de reclamar das altas taxas do cheque especial e dos cartões de crédito. Para o PPS e o PDT, a declaração do presidente é um escárnio ao povo brasileiro.
?Se muitos podem ver as declarações do presidente pelo prisma da ironia, condescendente, nós as entendemos como uma manifestação de escárnio ao povo brasileiro, pressionado cada vez mais pelos juros escorchantes, pela queda da renda familiar e pelo desemprego e indignado com os lucros exorbitantes dos banqueiros. Culpar o brasileiro pelos juros altos – e, mais gravemente, colocar a principal culpa sobre os ombros da classe média, pela larga utilização de cartões de crédito -, antes de insanidade conceitual, só pode ser analisada como quimera de mesa de bar?, diz a nota dos dois partidos.
Por um pacto de brasilidade
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que o Brasil vem conquistando cada vez mais espaço internacional e que por isso ?muita gente está de orelha em pé contra o País?. Lula conclamou os empresários a fazerem, junto com o governo, um pacto de brasilidade como forma de enfrentar todos os oponentes do Brasil de forma coesa. ?Ganhamos algumas batalhas na OMC. Conquistamos alguns espaços e isso coloca muita gente de orelha em pé contra o Brasil?, discursou Lula.
O presidente disse que o Brasil tem feito política internacional para ocupar grandes espaços e ressaltou que essas ações aumentaram em 58% o comércio do Brasil com o restante da América do Sul e que esse percentual é quase maior do que o comércio com os Estados Unidos, hoje o principal parceiro individual do Brasil. ?O que temos é que conquistar mais espaços, é fazer com que o Brasil não dê um passo atrás?, afirmou o presidente. Lula disse ainda que os empresários precisam lotar aviões uma vez por mês e irem ao exterior vender os produtos brasileiros.
Café é paixão do presidente
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva revelou ontem que tomar café é uma das coisas que mais gosta de fazer. ?Eu acho que eu sou capaz de parar de beber água e não de beber café. Se tem um vício que eu tenho na minha vida é de tomar café. É um vício que eu não tenho vontade de largar?, disse o presidente a uma platéia de cafeicultores que participavam do lançamento da 1.ª Edição Especial dos Melhores Cafés do Brasil.
O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, brincou com a paixão do presidente: ?Agora o presidente vai levar esses cafés especiais junto com a maquininha dele. O presidente carrega em todas as viagens ao exterior uma maquininha para fazer café e agora precisa levar o café brasileiro também?.
Lula avisou também que o setor pode contar com seu apoio para melhorar as vendas. ?Vocês, que terão de mim o apoio irrestrito para que a gente não veja nunca mais, neste País, centenas de produtores de café cortando o seu cafezal porque não acreditam mais nesse tipo de lavoura.?