A Eletrobrás, holding estatal de energia elétrica, deverá dobrar o lucro líquido em 2003, na previsão da corretora norte-americana Merrill Lynch. Assinado pelos analistas Frank McGann e Felipe Leal, o relatório divulgado hoje (10) pela instituição avalia a empresa como ?neutra? em termos de expectativas de investimentos a curto prazo. Ou seja, não há expectativas de altas ou quedas acentuadas das suas ações nesse período. É que, apesar de prever lucro líquido de R$ 3,1 bilhões para 2003 (frente ao R$ 1,57 bilhão projetado para este ano), os analistas ponderam que há grande ?incerteza regulatória? no setor elétrico brasileiro. Além disso, a Eletrobrás é controlada pelo governo, o que sempre abre espaço à possibilidade de interferências políticas que podem afetar o resultado da empresa.
As ações da Eletrobrás registraram queda de 62% em relação ao topo registrado nos últimos 12 meses. Se a estatal atingir o lucro projetado, a relação preço/lucro ficará em torno de 2,7 vezes no fim de 2003, o que é considerado baixo. Os analistas alertam, porém, que é necessário ?descontar? no preço o ?risco regulatório? referente às empresas elétricas e ao ?risco Brasil?.
A melhoria nos resultados viria do aumento das tarifas de energia elétrica, com o início dos leilões programados para a venda de ?energia velha?, a partir do dia 16. Os próprios analistas advertem que o leilão pode não ocorrer e o governo pode adotar alguma medida prejudicial à holding estatal de energia elétrica. Eles lembram que, no fim de 1998, o governo obrigou a estatal a se desfazer de parte dos empréstimos em dólares que tinha concedido à usina de Itaipu, ?às vésperas de uma grande desvalorização cambial?.
Os analistas ponderam que analisar a Eletrobrás não é uma tarefa fácil, pois boa parte dos seus resultados vem de financiamentos a outras empresas do setor, onde atua quase como ?banco?. Os técnicos da Merrill Lynch, porém, preferem fazer a avaliação com base nos resultados operacionais, já que ela controla as maiores geradoras de energia elétrica no País (Chesf Furnas, Eletronorte e Eletronuclear, entre outras).
Na avaliação de Leal e McGann, o MWh das geradoras federais tende a subir de forma expressiva no período 2003-06, quando os preços serão liberados à razão de 25% a cada ano. Os analistas projetam o MWh de Furnas em R$ 75,00, enquanto as geradoras do Norte e Nordeste (Eletronorte e Chesf) devem vender a sua energia entre R$ 60 e R$ 75 o MWh. Atualmente, em média, a Eletrobrás vende a sua energia na faixa de R$ 35 a R$ 55.
De qualquer forma, os técnicos da Merrill Lynch advertem que esse aumento pode não se materializar, especialmente se as fábricas de alumínio conseguirem sensibilizar o governo para manter suas tarifas de energia elétrica com subsídios. Esses consumidores, como Albrás, Alcoa e Alcan, pagam em torno de R$ 20 o MWh e os contratos com as estatais com preços favorecidos acabam no ano que vem.