Livre comércio deve ser pauta de Dilma em Bruxelas

A presidente Dilma Rousseff participa nesta segunda-feira, 24, em Bruxelas, na Bélgica, da reunião de cúpula União Europeia-Brasil. A delegação do governo brasileiro aterrissou na capital no domingo, 23, vinda de Roma. Após sua chegada, a presidente se encontrou com empresários brasileiros, que pressionam pela aceleração de um acordo de livre comércio com o bloco econômico. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) espera que Mercosul e União Europeia (UE) possam firmar assinar o entendimento, que vem sendo negociado há 10 anos, em até 60 dias.

Na chegada, nem a presidente, nem o ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, quiseram falar aos jornalistas. No final da tarde, a presidente deixou o hotel para se encontrar com o primeiro-ministro da Bélgica, o socialista Elio Di Rupo, e à noite – às 20h, horário local – a presidente jantou com 110 empresários brasileiros convidados pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), órgão que acompanha de perto as negociações para um acordo de comércio entre o Mercosul e a União Europeia.

Nesta segunda-feira, 24, a presidente terá reuniões com o presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, e com o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso. A perspectiva é de que um “plano de ação” para aumento de investimentos mútuos, para aumento da competitividade e para normatização de parte de Brasil e União Europeia seja assinado em Bruxelas.

Mas todas as atenções dos empresários estão voltadas para questões comerciais. A CNI deseja que o governo brasileiro pressione a UE a reduzir barreiras não tarifárias – como exigências sanitárias que impedem o ingresso de produtos brasileiros na Europa. Mas a grande expectativa gira em torno do acordo de livre comércio. A confederação pressiona para que o entendimento seja assinado antes das eleições europeias de 2014, a serem realizadas entre 22 e 25 de maio, quando 751 deputados do parlamento serão eleitos.

Para o diretor de Desenvolvimento Industrial da CNI, Carlos Eduardo Abijaodi, que também está em Bruxelas e jantou com a presidente Dilma Rousseff e com os membros da delegação brasileira, o ideal é que o acordo seja sacramentado em até 60 dias.

A principal preocupação dos empresários é com o resultado da balança comercial entre o Brasil e a Europa, que virou deficitária em 2012. Naquele ano, as exportações da UE em direção ao Brasil foram de ? 39,7 bilhões, contra ? 37,4 bilhões em importações – um déficit na balança brasileira de ? 2,3 bilhões. Nos nove primeiros meses de 2013, de acordo com o Escritório Estatístico das Comunidades Europeias (Eurostat), o buraco aumentou: enquanto as exportações chegavam a ? 30,4 bilhões, as importações feitas do Brasil foram caíram para ? 24,9 bilhões – um déficit de ? 5,5 bilhões.

“Nós estamos perdendo terreno. A União Europeia foi um dos maiores parceiros nossos, continua sendo, mas com um determinado declínio no comércio, nas exportações”, advertiu Abijaodi, referindo-se às vendas feitas à Europa por empresas brasileiras.

Para o empresário, a prioridade hoje deve ser negociar a retirada de barreiras não tarifárias que prejudicam as exportações brasileiras. Mas, além disso, a CNI espera que o acordo de livre comércio entre Mercosul e a UE seja firmado o mais rápido possível, antes das eleições europeias, quando se espera a eleição em massa de parlamentares de partidos de extrema direita, que têm como bandeira o protecionismo econômico. “Todo novo governo vai gastar tempo para se organizar”, argumentou Abijaodi.

Para o diretor de Desenvolvimento Industrial, a contestação feita pela UE ao Brasil na Organização Mundial do Comércio (OMC) sobre os benefícios fiscais concedidos à indústria, e que distorceriam a competição, não deve prejudicar as negociações. Os europeus questionam os incentivos a setores como a indústria automotiva e à de tecnologia, colocando em causa inclusive as regras que beneficiam a Zona Franca de Manaus. Para Abijaodi, a contestação “não estraga a relação”. “Temos de tratar com profissionalismo”, justificou.

Os países do Mercosul devem revisar ao longo dos próximos 10 dias suas listas para apresentar aos europeus uma oferta única. É a partir dessas ofertas mútuas que a negociação evoluirá ou não.

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