A desaceleração no crescimento da produtividade brasileira é nitidamente sentida na indústria, mas já está afetando o setor de serviços e pode começar a prejudicar o mercado de trabalho. Segundo essa análise, do vice-presidente do Insper e ex-secretário de política econômica do Ministério da Fazenda, Marcos Lisboa, o próprio governo tem sua parcela de culpa no problemas da produtividade.

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Lisboa explica que, apesar da forte recuperação do PIB em 2010, os principais motores do crescimento brasileiro vêm se deteriorando significativamente desde a crise global. “Infelizmente, após 2009 a produtividade, que crescia 1,2% ao ano, passou a crescer próximo de zero. Isso afetou, sobretudo, a indústria, e nos últimos anos vem contaminando também o setor de serviços, que é o grande empregador, então ameaça prejudicar o mercado de trabalho”, afirmou em uma entrevista exclusiva para o Broadcast.

O economista, que até o ano passado era vice-presidente do Itaú, argumenta que nos últimos anos o País tem sido dominado pela visão do desenvolvimentismo nacional, de que o problema da economia é a demanda, ou seja, é preciso estimular as pessoas a comprarem mais e as empresas a investirem mais. Mesmo assim, ele defende parcialmente os esforços dos governos Lula (do qual fez parte no primeiro mandato) e Dilma, afirmando que houve um grande empenho em alocar recursos para investimentos, mas que acabou fracassando.

Para Lisboa, o motivo desse fracasso foi justamente a questão da produtividade. Na sua visão, a maioria das medidas de proteção adotadas pelo governo para tentar blindar alguns setores contra a competição externa não deu certo. “Na hora em que se faz uma regra de conteúdo local, por exemplo, o consumidor desse setor vai pagar mais caro por equipamentos e insumos importados, ou comprar produtos nacionais de pior qualidade. A proteção de um setor reduz a produtividade de setores que estão à frente na cadeia produtiva, ou reduz a renda das famílias”, explica.

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Com a ressalva de que as medidas de proteção não são necessariamente ruins, Lisboa diz que o Brasil se fechou muito nos últimos anos e diversos setores se tornaram dependentes, o que dificulta a retiradas das restrições, mesmo quando essas medidas não são bem-sucedidas. Isso acaba criando distorções, como no caso da indústria automobilística, “que tem 60 anos de proteção e até hoje tem dificuldade de competir”.

Questionado sobre as recentes declarações do governo, de que o problema recente da economia brasileira não é a falta de demanda, mas a escassez de crédito, Lisboa insiste na tese da produtividade. “O crédito é consequência desse processo, das dificuldades que o setor produtivo vem passando”.

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Sobre as atuais tratativas do governo com a indústria automobilística para tentar alterar as regras para as garantias de empréstimos e assim impulsionar as vendas, Lisboa diz que essa discussão vem avançando desde a década passada e já beneficiou o setor, ao baratear os financiamentos. “Mas certamente tem espaço para avançar muito mais”, acrescenta.