Jovens recém-casados, idosas e quarentões solteiros passaram a madrugada de hoje acordados em uma fila de dobrar quarteirão em Pinheiros, na zona oeste de São Paulo. Atraídos pela promessa de descontos de até 70% em uma loja da rede varejista Magazine Luiza, eles queriam camas box, geladeiras, fogões e, sobretudo, televisores de tela fina. Quando a loja abriu, às 5 horas da manhã, mais de 500 pessoas estavam na calçada.
Dentro da estabelecimento, cerca de 30 funcionários rezavam o pai nosso de mãos dadas em uma roda e entoavam um canto de guerra, à espera dos consumidores. A megaliquidação ocorre há três anos, sempre em janeiro, e era a segunda da auxiliar de enfermagem Genilda dos Santos Godinho, de 43 anos. No ano passado, ela comprou um freezer e, agora, queria uma máquina de lavar roupa. “Venho aproveitar os descontos”, disse, deitada em um colchão trazido pelo cunhado.
A fila começava na Rua Teodoro Sampaio, passava pelo Largo da Batata e seguia pela Rua dos Pinheiros. Na primeira posição, a autônoma Nilza Maria de Santana, de 54 anos, planejava gastar R$ 3.500 em um televisor de 32 polegadas, um fogão, uma cama box e, “dependendo do preço”, uma geladeira duplex. “Cheguei à uma da manhã e trouxe a cadeira”, disse.
Abraçados no fim da fila, sob a noite de temperatura amena, os namorados Jean Michel, de 22 anos, e Mariana Pires, de 20, desejavam um ar-condicionado e um televisor de plasma. “Aqui está gostoso, o tormento vai ser lá dentro”, disse Jean, apreensivo com a hipótese de encontrar as prateleiras já vazias.
Dentro da loja, a disputa era no corpo a corpo. Quem achava o que queria agarrava o produto e não largava mais. No sistema de som, um vendedor gritava que os estoques estavam acabando. “Só estou enfrentando isso porque tenho necessidade”, contou a dona de casa Maria do Rosário, de 66 anos, na fila desde as duas da manhã. Ela mora atualmente com os filhos e vai se mudar para uma casa nova em fevereiro. Queria geladeira, fogão e lavadora de roupas.
Os recém-casados Robson Santos, de 24 anos, gerente lotérico, e Géssica Marcela dos Santos, de 22, operadora de caixa, aguardaram a abertura da loja sentados no chão, sobre o tapete de borracha do carro. “Saí do trabalho e vim direto pra cá”, disse Robson. Eles estão mobiliando a casa nova, em Pirituba, na zona norte, e planejavam gastar R$ 2,5 mil em um televisor, um micro-ondas, um liquidificador e uma batedeira. Todos tinham à disposição dois banheiros químicos, instalados na calçada pela rede, e vendedores ofereciam lanches, salgados e bebidas. Ambulâncias e uma viatura da Polícia Militar completavam o apoio.