Líderes da UE retardam recuperação de bancos

Os líderes europeus não fizeram a sua parte no acordo com os bancos para por fim à crise soberana da zona do euro, afirma Christian Clausen, presidente da European Banking Federation (EBF), a poderosa federação que representa os interesses dos bancos europeus, uma congênere da Febraban.

A hesitação dos líderes europeus em tomar uma decisão crível e definitiva é o grande ponto de interrogação que pesa sobre a recuperação financeira dos bancos europeus neste momento. Pressionados pelo rebaixamento dos seus ratings e pela evaporação das fontes de recursos de curtíssimo prazo para financiar suas operações, os bancos, diz o executivo dinamarquês, estão cumprindo, de fato, a promessa de avançar com grande rapidez na adoção de medidas, como a venda de ativos, para reforçar seus índices de capital e de solvência. Mas têm de conviver com títulos públicos em suas carteiras, que a cada dia perdem valor, diante da inércia dos governos.

Clausen, 56 anos e também presidente do grupo financeiro escandinavo Nordea Bank, com sede em Estocolmo (Suécia), descarta a ruptura do euro, mas admite a possibilidade de alguns países não aprovem uma mudança no tratado que rege a moeda comum. Por isso, embora acredite que o pior cenário de incerteza completa, como em 2008, já passou, ainda espera muita volatilidade nos mercados mundiais pela frente. “O problema do déficit dos governos europeus não será resolvido da noite para o dia, levará muito tempo para implementar as mudanças estruturais necessárias”.

Segundo Clausen, em entrevista exclusiva à Agência Estado, os bancos europeus estão se fortalecendo porque avançam com rapidez em direção à meta de 9% de reserva de capital nível, ou o capital de máxima qualidade, acordada com os líderes europeus há cerca de seis, oito semanas. “Todos os bancos com quem eu estou falando me dizem a mesma coisa: estão vendendo alguns ativos, desalavancando, retendo lucros e alguns desses bancos estão levantando recursos. Então, os bancos estão agindo com muita rapidez em relação às promessas que fizeram aos chefes de Estado no acordo firmado no final de outubro”, disse.

Até junho de 2012, os bancos terão certamente atingido os 9% de capital nível 1, afirmou. “Contudo, o problema ou o grande ponto de interrogação que está pesando sobre os bancos é que os chefes de Estado europeus não estão cumprindo com as promessas que eles fizeram de controlar os déficits fiscais, estabelecer o fundo (a Linha de Estabilidade Financeira Europeia) e outras medidas para dar ao mercado a confiança de que os governos estão dispostos a repagarem suas dívidas”.

Para a reunião de cúpula da União Europeia (UE), Clausen disse esperar que os líderes europeus assumam a responsabilidade de deixar bem claro para o mercado de que os governos da Europa são capazes e estão dispostos a repagarem sua dívida. Exatamente como farão isso é menos importante agora, mas o desfecho dessa reunião precisa ser decisivo, determinante e que claramente demonstre que os países mais fortes da zona do euro darão suporte e estarão totalmente a favor dessa exigência de que os países europeus estejam dispostos e capazes em repagarem a dívida. “Minha expectativa é que os líderes vão anunciar uma decisão nesse sentido, talvez não a implemente na próxima semana, mas que seja uma decisão a ser implementada com rapidez”, explicou.

Sobre o processo de desalavancagem em curso pelos bancos como forma de reforçarem seus índices de capital, Clausen admitiu que há, de fato, o risco de ocorrer um “credit crunch” (colapso de crédito) à medida que os bancos prossigam com esse processo. “Mas o que está acontecendo na prática, pelo menos com os bancos com os quais venho conversando, é que eles estão mantendo as suas linhas de crédito para as famílias, os consumidores”. Primeiro, ressaltou ele, porque esse tomador de crédito é tipicamente o negócio principal dos bancos. Segundo, porque o crescimento do volume de empréstimos para este segmento não está muito forte neste momento. “O que os bancos estão se concentrando agora são outros tipos de ativos que engrossaram seus balanços nos últimos anos, tipicamente de maior risco. Então, o que poderá ser afetado não é o crédito de varejo, mas o “funding” (financiamento) de risco”, disse.

Ele explicou ainda que por causa das incertezas sobre a qualidade dos ativos e sobre os índices de capital, o mercado de captação de recursos (para os bancos europeus) está fechado já há bastante tempo. “Tenho esperança de que essas decisões que vêm sendo tomadas e serão anunciadas na reunião de cúpula desta semana vão se normalizar em breve”, afirmou Clausen. Ele acredita que o Banco Central Europeu (BCE) poderia fornecer “funding” de mais longo prazo e mais estabilidade na perspectiva desse financiamento. “Lógico que não é a única coisa para resolver o problema, mas aliviaria os sintomas desse problema”, disse.

Clausen descarta, por enquanto, o risco de ruptura total do euro. “Talvez haverá mudanças nos tratados que regem a moeda comum. Obviamente, não posso descartar que alguns países serão contra essas mudanças nos tratados”, comentou. Para ele, o problema do déficit dos governos europeus não será resolvido da noite para o dia, levará muito tempo para implementar as mudanças estruturais necessárias.

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