O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, afirmou nesta terça-feira, 29, que a economia brasileira pode voltar a crescer dentro de aproximadamente um ano e que os empresários têm de estar preparados para atender essa demanda. Caso contrário, isso gera inflação e impede um crescimento maior do Brasil, configurando o chamado “voo de galinha”. A declaração foi dada durante a premiação do ranking Empresas Mais, elaborado pelo jornal O Estado de S. Paulo.
Levy explicou que, resolvida a situação fiscal, será possível reduzir os juros e o crédito voltará a crescer de maneira saudável. Assim, a economia deve reagir relativamente rápido e justamente por isso é preciso avançar com as reformas estruturais, “para não termos mais voo de galinha”. O problema do Brasil não é demanda, é oferta, frisou.
“Quando a economia readquirir suas cores, temos de estar preparados para não batermos no muro da oferta”, apontou. Ele explicou que essa rigidez na oferta se reflete em preços mais altos. Isso aconteceu no ano 2000, quando o Brasil crescia 4,5% e viu uma série de restrições de oferta. “Precisamos prestar atenção hoje para estar preparados para que daqui um ano, quando for que a economia voltar a crescer, a gente tenha enfrentado essas questões da oferta.”
Levy disse que algumas medidas tomadas pelo governo no começo deste ano já estão dando resultado, inclusive com um incentivo das exportações e uma maior demanda por produtos industriais domésticos, em função da recente valorização do câmbio. “É assim que nós vamos enfrentar o desemprego”, apontou. “Não é crédito subsidiado que vai fazer as empresas comprarem novas máquinas, é confiança de que o ciclo de desenvolvimento é equilibrado.”
Esforço fiscal
Levy ressaltou que o Brasil vem fazendo um esforço fiscal enorme no curto prazo. Segundo ele, o governo está economizando este ano R$ 80 bilhões em relação ao que foi aprovado no Orçamento, com R$ 40 bilhões a menos nas despesas discricionárias. “Nós estamos pagando mais de R$ 20 bilhões em subsídios, de 2012, 2013… No ano passado só foram pagos R$ 4 bilhões. É lógico que é muito mais difícil alcançar a meta fiscal, mas estamos pondo a casa em ordem, pagando coisas do passado, o PSI, o apoio agrícola.”
Ele mencionou ainda o grande trabalho para que o Congresso mantenha os vetos presidenciais, já que os projetos barrados poderiam gerar quase R$ 60 bilhões em gastos. “São duas CPMFs”, destacou Levy. Segundo o ministro, a presidente a Dilma Rousseff teve coragem de vetar esses projetos, mesmo sabendo do custo político, e agora o governo tem encontrado apoio no Congresso para a manutenção dos vetos.
Cizânia
Levy, ressaltou a necessidade de se concluir o ajuste fiscal e foi duro com os críticos ao afirmar que “não adianta tentar criar cizânia em torno do ajuste”. Na saída do evento, numa rápida conversa com os jornalistas, o ministro rebateu o manifesto divulgado ontem pela Fundação Perseu Abramo, braço de formulação político-econômica do Partido dos Trabalhadores (PT).
O documento, faz críticas à política econômica do governo Dilma Rousseff. Conforme o manifesto, houve um diagnóstico equivocado da situação econômica e é equivocado considerar o fiscal como a única saída. O presidente da Fundação, Márcio Pochmann, tem reiterado que o ajuste fiscal está jogando o País para uma recessão, promovendo a deterioração das contas públicas e dificultando o Brasil a sair da crise.
“A gente tem um plano muito bom de investimentos, esse 1, 2, 3 do qual eu falei: Você acerta o fiscal, os juros começam a cair e você enfrenta as questões da oferta, fazendo as mudanças que o Brasil precisa para criar empregos”, refutou Levy. Para ele, este é um plano vitorioso. “A gente precisa é ter o apoio da sociedade e do Congresso para fazer isso”, cobrou o ministro.
Segundo Levy, ao se acertar a questão fiscal, abre-se espaço para os juros caírem de maneira verdadeira. “Você trata também condições para ter um mercado acessível, para poder investir na infraestrutura com mais segurança. O Brasil vai crescer. Vai ser o que a presidente falou, um novo ciclo de crescimento. Temos que estar juntos para fazer isso”, conclamou Levy.
Questionado sobre o que pensa a respeito das críticas feitas diretamente pelo PT, o ministro disse que na segunda-feira, 28, mesmo comentava que uma casa dividida não subsiste. “É o que eu comentava ontem, uma casa dividida, como naquele filme do Abraham Lincon, não subsiste. Mas uma casa com pluralidade pode ser forte. Vamos trabalhar juntos em prol do plano 1,2,3”, afirmou, acrescentando que “o Brasil vai crescer e sem voo de galinha”.